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Filhos da Revolução

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Profissionais de uma nova geração estão chegando ao mercado de trabalho cheios de confiança, coragem, novos hábitos e habilidades. Mas também de vícios e inépcias. Prezam pela individualidade, mas se destacam por um aspecto comum: não conheceram o mundo sem internet e a revolução tecnológica iniciada no final do século 20. Esses são os nativos digitais, jovens nascidos depois de 1995 e que agora começam a impactar o meio corporativo. Conquistam seu espaço não apenas pela familiaridade com os aparatos tecnológicos e de comunicação, mas com uma série de características de personalidade e comportamento que obrigam as empresas a se adaptarem e criar novas práticas para atrair e reter esses profissionais. Para os jovens da chamada “geração Z”, não faz sentido diferenciar a vida online da off-line. Sempre conectados, são elogiados por quem enxerga neles dinamismo, agilidade na tomada de decisões e proatividade. Mas também criticados por quem aponta uma alienação do que acontece ao seu redor e falta de interação com as pessoas de sua convivência direta, na vida pessoal ou no local de trabalho.

Vantagens e desafios

Para alguns especialistas, os nascidos neste milênio serão chefes da geração Y (nascidos entre 1980 e 1995) em pouco tempo. Outros identificam o uso abusivo da tecnologia como um empecilho que pode prejudicar a carreira dos nativos digitais. “Acredito que o grande diferencial desses jovens é a ausência do medo da inovação. Os nativos digitais são mais ágeis com os aparatos tecnológicos e têm grande capacidade de adaptação”, diz Guilherme Neves, proprietário da Doutornet Tecnologia e professor universitário na área de tecnologia e segurança da informação. Neves aponta, porém, uma deficiência da maioria dos representantes dessa geração. “Os profissionais mais antigos têm uma formação mais robusta, em que o conhecimento teórico e o saber fazer sem as ferramentas tecnológicas são fundamentais. O profissional mais antigo, quando se qualifica para o mundo digital, tende a apresentar um desempenho muito melhor que os nativos digitais”, afirma. Segundo Neves, os nativos digitais destacam-se em áreas em que a rotatividade de mão de obra é maior, em cargos juniores e plenos, como vendas, administração, tecnologia e desenvolvimento de software. “Mas quando se procura um executivo, um profissional de projetos ou na área acadêmica, quanto mais sênior, melhor. Mas, claro, ele deve estar plenamente adaptado à nova era digital.” Um exemplo de vantagem da geração Z na hora de buscar um lugar no mercado de trabalho é sua capacidade de ser multitarefa. “Esse profissional faz várias coisas ao mesmo tempo, nem sempre com grande concentração, mas a produtividade é bastante grande. Outra característica é que ele não se importa muito com o regime de trabalho e se dispõe a trabalhar em ambientes diferentes, coworking, home office, em trânsito… O local deixa de ser exclusivamente o escritório e passa a ser o mundo conectado, em qualquer lugar, de qualquer forma”, ressalta Neves.

Moldados pela tecnologia

O termo “nativo digital” foi lançado em 2001 pelo escritor e palestrante Marc Prensky, em um artigo publicado em 2001 na revista “On the Horizon”. Segundo Prensky, a exposição dos jovens à tecnologia digital desde a infância concederia a essa geração talentos e características inéditas. O conceito deu notoriedade a Prensky e foi propagado como uma síntese da ideia de que os mais jovens estão sendo modificados pela tecnologia. Segundo o administrador. Jorge Luis dos Santos B., coordenador do Grupo de Excelência de Estudos em Tecnologia Digital (GEETD), do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP), isso nem sempre se traduz em uma relação saudável com a tecnologia ou com o ambiente de trabalho. “Em sua maioria, esses jovens fazem uso abusivo da mídia, redes sociais e celular. Essa geração está deixando passar a convivência, o relacionamento, e por isso enfrenta muitos problemas. Não conseguem interagir, conversar e muito menos conviver com outras pessoas. Com baixa autoestima, o jovem não dispõe de mecanismo para lidar com o estresse. Por isso, vê-se o crescimento dos índices de suicídios, depressão, evasão escolar…”, afirma Santos. De acordo com Santos, a conjuntura política e econômica também pode estar contribuindo para que a geração Z desenvolva uma característica surpreendente. “Eles cresceram em um mundo de instabilidade econômica e política. Esse cenário pode estar minando a confiança dos jovens, que têm se tornado mais conservadores nas decisões sobre empregos. É o que mostra uma pesquisa feita pela consultoria britânica Deloitte, que aponta os jovens menos otimistas com o futuro, mais preocupados com a economia e cautelosos na hora de tomar decisões”, destaca.

Iniciativa

O estudante Caio Marcos de Oliveira, de 17 anos, desde o início deste ano trabalha por meio de um programa de estágios em uma empresa de tecnologia na Grande Curitiba. Típico nativo digital, usa o celular o dia todo. Segundo ele, a familiaridade com a tecnologia até hoje só abriu portas em sua incipiente vida profissional. “Já consegui agilizar alguns processos de trabalho ao sugerir o uso de um aplicativo para fazer reuniões por videoconferência. Baixamos uma versão gratuita para teste e em 15 dias ninguém mais queria voltar ao sistema antigo. A empresa então decidiu adquirir o pacote completo de serviços e passou a recomendar seu uso em todos os departamentos”, conta Caio, que diz ter recebido elogios e reconhecimento pela iniciativa.

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