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Comunicação Não Violenta

Aos poucos ela ganha espaço por ter proposta inclusiva e pacífica de resolução de conflitos

Por Leon Santos

Em tempos de guerras e polarização política, a paz e a boa comunicação nunca foram tão importantes no Brasil e no mundo. Talvez por isso, uma ideia antiga venha ganhando espaço nas empresas, escolas e na sociedade como um todo: a ‘Comunicação Não Violenta’ (CNV).

Criada nos anos de 1960 pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, a CNV é uma prática que trabalha o modo de expressão individual e busca aprimorar relacionamentos interpessoais. Tem como finalidade atender às necessidades dos envolvidos em uma conversa, sem machucar o outro com palavras, e visa ouvir sem ofender.

De acordo com a psicóloga e professora da Universidade de Brasília (UnB), Suely Guimarães, a proposta da ‘Comunicação Não Violenta’ é promover uma interação empática entre as pessoas. Envolve a observação, o sentimento, as necessidades dos dois interlocutores e o pedido como etapas relevantes.

A pessoa reformula o modo pelo qual se expressa de modo consciente, claro e objetivo, e não de forma impulsiva ou repetitiva. A CNV deve ser pautada pela honestidade, respeito e empatia pelo outro”, explica.

A psicóloga completa ao dizer que a linguagem utilizada no processo deve evitar rebuscamento e especulações, e ser o mais claro e direto possível. Deve, ainda, observar os limites do outro — sem que as partes deixem de se pronunciar — e procurar o entendimento ao superar conflitos, mesmo quando as opiniões são diferentes.

Segundo Suely, a CNV tem crescido nas últimas décadas devido à maior independência das pessoas e à percepção de seus direitos. Além disso, o aumento nos índices de violência e morte, no Brasil e no mundo, também tem promovido debates e levantado a importância de estabelecer um novo modo de relacionamento entre as pessoas.

“A ‘comunicação violenta’ parece ter raízes culturais e ancestrais, pois remonta ainda à escravatura. Ao longo do tempo, as pessoas foram aprendendo que o comando, o ‘mandar’, tem efeito de autoridade e resulta em aquiescência (consentimento) ou obediência por parte do menos favorecido no contexto da relação”, diz.

Origens e gargalos

De acordo com a pesquisadora e professora Dulce Ribeiro, da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), no passado o controle e a autoridade eram a base do ‘direito divino’, dos reis, e para manter tal status era preciso uma linguagem de dominação. Ela narra que a ‘comunicação violenta’ surge de contextos onde há segmentação de padrões de pessoas e julgamentos desnecessários.

As sociedades, ainda de acordo com a pesquisadora, foram construídas a partir de hierarquias de poder que definem recompensas àqueles que merecem. No entanto, punem os que não entregam o que é necessário, julgando-os culpados pelo resultado.

Dulce acrescenta que por meio de tal sistemática emergem sentimentos como vergonha, culpa, medo e insegurança. Por isso, ela classifica o fenômeno como trilha da comunicação violenta — que pode não ter gritos e agressões, mas não possibilita o desenvolvimento humano em todas as suas formas de manifestação.

“Onde há hierarquia e poder punitivo, a criatividade, ousadia e colaboração têm espaço restrito para prosperar. Ao contrário, são desenvolvidos ambientes competitivos, preconceituosos, exclusivos e individualistas — locais áridos, tóxicos e com baixa saúde mental”, classifica.

Vantagens

Para Dulce Ribeiro, o sucesso da CNV no Brasil está ligado à origem das necessidades que são inerentes aos indivíduos; tais como acolhimento, respeito e reconhecimento, além dos desejos de transformar, criar, apreciar, imaginar e prosperar. A nova comunicação ainda promove a expressão de sentimentos, por meio de conversas sem julgamentos, onde são ensinados a pedir ajuda e estabelecer acordos.

A professora exemplifica como funciona a CNV. Quando um chefe comunica ao subordinado que precisa de uma entrega para o outro dia, mas pergunta qual tipo de ajuda o colaborador precisa para executar o trabalho, essa seria uma forma de comunicação não violenta, pois é colaborativa.

“Ao passo que apenas pedir, em tom de exigência, que algo seja entregue sem falta no outro dia é uma forma de comunicação violenta. Isso porque ele não cogita qualquer situação diferente do resultado que demandou e nem se preocupa com o bem-estar do outro”, explica.

Já para Suely, as empresas têm a ganhar com a comunicação mais pacífica, uma vez que ela melhora ou evita muitos quadros de adoecimento físico e emocional. Ela destaca que entre as variáveis associadas ao Burnout (esgotamento físico e mental) está incluído o relacionamento com os colegas de trabalho e superiores, o que envolve a forma de comunicação empregada.

Com a implementação da CNV, as empresas poderão melhorar a relação entre os trabalhadores e a percepção de igualdade e valorização entre eles. Isso implica mais parceria e resultados; mais dedicação, menos ausência por licenças médicas e mais valorização e interesse no progresso da empresa por parte de todos”, finaliza.