Sociedade Anônima começa ser implementada por times que apostam na alternativa para ter melhor futuro, com gestão e competitividade.Por Rodrigo Miranda
Nos últimos meses, a sigla SAF ficou famosa no país. A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) surgiu como possível salvação para clubes brasileiros que enfrentam graves crises financeiras e enxergam na alternativa uma luz no fim do túnel.
Em agosto do ano passado foi sancionada a lei 14.193/2021, que autoriza a criação da Sociedade Anônima do Futebol. Com isso, os clubes de futebol do Brasil agora podem ser transformados em empresas.
O processo para deixar de ser ‘associação sem fins lucrativos’ e virar empresa é burocrático e envolve política. Os dirigentes, conselheiros e a cúpula do time interessado precisam, por vezes, abrir mão do poder para que o investidor possa chegar.
Benefícios
A SAF oferece vantagens tributárias, além de possibilitar a centralização de dívidas trabalhistas e cíveis. Além disso, exige regras mais claras sobre governança, transparência e medidas de gestão profissional. Os negócios também vão passar a ser fiscalizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Para alguns clubes, a SAF é a solução para sair da insolvência e voltar a brilhar. O Cruzeiro, de Belo Horizonte (MG), foi o primeiro clube a aderir ao novo modelo, pois vive um dos piores momentos de sua história: vai para a terceira temporada seguida na Série B e suas dívidas já ultrapassam R$ 1 bilhão.
O comprador da Raposa foi o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Ele se comprometeu a investir R$ 400 milhões no clube mineiro e entrou, também, como sócio das dívidas da equipe.
No Rio de Janeiro, o Botafogo adotou o mesmo formato. O empresário norte-americano John Textor adquiriu 90% do Glorioso (apelido do time), com esquema de negócio parecido com o do Cruzeiro, e fará aportes de R$ 400 milhões, e herdará dívidas de mais de R$ 1 bilhão, o que foi um ótimo negócio para o clube.
O terceiro clube a adotar a nova modalidade foi o Vasco da Gama (RJ), ao firmar acordo com o fundo de investimento ‘777 Partners’, tornando-se SAF. Deve obter investimento de R$ 700 milhões por 70% do clube, e com isso promete reconstruir a imagem da equipe e trazer mais confiança para a torcida, que acredita em uma gestão mais eficiente.
Tendência?
Com mais de 40 anos de experiência em gestão esportiva, o administrador e vice-presidente de marketing do Sport Clube Internacional, de Porto Alegre (RS), Jorge Avancini, acredita que a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) pode representar um novo momento para o futebol nacional quando o assunto é gestão profissional. Ele destaca que os clubes que aderiram à SAF tinham enormes dívidas e grande dificuldade de conseguir gerir a situação com o modelo atual de negócios.
Para Avancini, os clubes têm visto a modalidade como um porto seguro, em que as dívidas podem ser equacionadas, e oportunidade para voltarem a ser competitivos. O administrador destaca que os primeiros clubes que fecharam com a SAF estão começando a funcionar.
“Talvez, no final do ano, o Botafogo já consiga dar um retorno sobre esse novo tipo de parceria, mas os clubes têm que se aprofundar no conhecimento do tema e ouvir as propostas para se adequar a cada realidade. Os investidores trazem uma cultura forte de gestão profissional, então, com isso, a grande vantagem da SAF é deixar um legado de sucesso e profissionalização, foco em resultado e rentabilidade”, avalia.
Já para o administrador André Carneiro, vice-presidente de marketing do Clube de Regatas Brasil (CRB), a possibilidade de aporte financeiro gera mais competitividade para os clubes, com a implantação de uma cultura de governança, compliance e eliminação da gestão politizada. Também afasta a dependência de mecenas (patrocinadores mandatários), o que, para Carneiro, é obsoleto, mas ainda sobrevive nos clubes de futebol com o modelo associativo atual.
Embora a SAF possa trazer resultados significativos às agremiações, Carneiro não acredita que a SAF represente uma tendência dominante e nem que seja uma revolução. Para ele, independente do modelo, a gestão profissional deve acontecer a todo instante e não somente a partir da implantação do novo formato.
“Eu não chamaria de revolução, mas de uma oportunidade de melhoria na gestão, pois há clubes que mesmo no modelo associativo conseguem ter excelentes resultados com práticas de gestão. Para um clube evoluir, não precisa necessariamente sair do modelo associativo para uma SAF, mas sim mudar a mentalidade, e é nesse ponto que reside o maior benefício do modelo SAF — acelerar essa mudança de paradigma”, sentencia.