Metodologia pode contribuir para a grande virada na criação de produtos e serviços disruptivos e melhorar finanças em até 70%, segundo pesquisa
Por Leon Santos
Embora não seja uma novidade no mercado, o Design Thinking (DT) tem se consolidado cada vez mais como processo de criação de produtos e serviços inovadores ao redor do mundo. Não à toa, é amplamente utilizado em grandes, médias e pequenas empresas, bem como em startups — empresas embrionárias de diferentes ramos de atuação que buscam a inovação e disrupção como direcionamento estratégico.
Entre as centenas de organizações que utilizam o DT em seus processos de criação estão Nike, Samsung, Oral B e IBM; além das empresas brasileiras Natura, Havaianas, Totvs e Ambev. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 80% dos gestores entrevistados afirmaram que conseguiram gerar soluções mais criativas e ágeis quando passaram a utilizar o método, e 70% perceberam melhora nas finanças das empresas.
Segundo a doutora em administração e professora na PUC Minas, Soraya Pongelupe, o design thinking é uma metodologia de pensamento e aplicação do design que visa a criação de novos produtos, serviços e processos para resolução de problemas complexos. Embora associado popularmente à criação de conteúdos visuais e estéticos, o termo design é amplo e significa, neste caso, o desenvolvimento de produtos em geral.
“O design thinking enfatiza a importância de entender profundamente as necessidades e motivações dos usuários ou stakeholders envolvidos. Isso é feito por meio da empatia, ou seja, colocando-se no lugar do outro para compreender suas necessidades, desafios e aspirações. Essa compreensão empática permite que as soluções desenvolvidas sejam verdadeiramente centradas no usuário, aumentando sua relevância e eficácia”, explica Soraya.
Entre os benefícios do DT estão tornar as empresas mais ágeis e flexíveis na resolução de problemas, adaptando-se rapidamente às mudanças de mercado e às demandas dos clientes. Além de gerar produtos diferenciados, também promove a cultura da colaboração e engajamento nas empresas; isso porque ele é praticado por um grupo multidisciplinar que é convocado para pensar, avaliar e desenvolver as soluções.
Prática
Segundo o professor e pesquisador da ESPM, Paulo Reis, o DT é frequentemente dividido em cinco fases; são elas: 1) contextualização; 2) definição do problema; 3) geração de ideias; 4) prototipagem e 5) teste. Na primeira fase, na contextualização, são avaliadas as necessidades, desejos e comportamentos dos usuários.
Ainda nessa fase, o grupo de design thinkers realiza pesquisas extensivas como entrevistas, observações e imersões no ambiente do usuário para coletar informações qualitativas sobre as experiências e perspectivas distintas do ambiente. O objetivo é desenvolver empatia ou colocar-se no lugar do outro e compreender os problemas do ponto de vista dos usuários.
Na segunda etapa ocorre a definição do problema. Ela acontece em paralelo à contextualização — onde o grupo de trabalho converte distintas informações coletadas para buscar insights que auxiliam na compreensão do desafio e na definição do problema a ser resolvido de maneira clara.
“A cada passo de avanço no entendimento do contexto, a equipe volta nesta fase (definição do problema) para ajustar objetivos e metas estabelecidos. Aqui os designers analisam, avaliam e identificam padrões, pontos de contato e oportunidades de melhoria”, explica Reis.
Na terceira fase ocorre a geração de ideias: é quando a equipe gera uma grande quantidade de ideias e sequências de possibilidades, com objetivo de explorar ampla gama de soluções alternativas para o problema estabelecido. O foco nesta etapa é na quantidade e variedade de ideias, sem se preocupar propriamente com a viabilidade das soluções.
Na quarta etapa, prototipagem, é quando as ideias em construção vão sendo transformadas e ajustadas na forma de protótipos tangíveis e experimentáveis, que podem ser testados e refinados. Pressupõe a construção e conformação de protótipos simples e de baixo custo — que representam diferentes soluções para o problema —, e o objetivo é criar algo rápido e fácil de interagir, com base no feedback dos usuários, obtidos em fases anteriores.
Na quinta e última fase acontecem os testes — é quando os protótipos são apresentados aos usuários e ocorre interação, experimentação e, assim, a equipe responsável pode obter novos feedbacks sobre qualidade, eficácia, usabilidade e aceitação.
“Nessa última fase, a equipe de designers conduz testes de usabilidade com os usuários para observar como eles interagem com os protótipos e identificar pontos fortes e fracos. Com base nas respostas e características observadas, os protótipos podem ser refinados e ajustados, conforme necessário, ou, se for o caso, retornar às fases anteriores para explorar novas ideias ou redefinir o problema”, explica Reis.
Aplicações
Segundo a doutora em administração e professora no Coppead/UFRJ, Cláudia Araújo, o Design Thinking (DT) pode ser praticado por todos os cargos ou posições em uma organização. No entanto, ela enfatiza o papel da liderança do projeto; tanto ao aceitar as opiniões — na fase de geração livre de ideias — quanto para que o grupo não se perca ao longo do processo e o trabalho não resulte em um produto viável.
Cláudia exemplifica ao dizer que médicos e outros profissionais da saúde podem utilizar a metodologia para melhorar a experiência dos pacientes com os serviços oferecidos. Os servidores públicos também podem fazer uso do DT para oferecer mais valor e agilidade aos cidadãos.
“Professores também podem se valer das ferramentas de design thinking para direcionar os alunos e fomentar a participação em sala de aula. Eu mesma emprego várias dessas ferramentas em minhas aulas e percebo uma excelente percepção por parte dos alunos”, revela.
Já a coordenadora do curso de pós-graduação em Marketing Digital da PUC Minas, Soraya Pongelupe, complementa ao dizer que um analista financeiro pode utilizar o DT para lidar com problemas complexos, relacionados à gestão de investimentos ou na otimização de processos financeiros. Já no setor de recursos humanos, o design thinking pode revolucionar a forma como as organizações abordam questões relacionadas ao recrutamento, desenvolvimento de talentos e cultura organizacional.
“Os profissionais de RH podem usar o design thinking para entender melhor as necessidades e aspirações dos colaboradores, criar experiências (de candidatos) mais humanizadas e desenvolver programas de desenvolvimento que atendam às necessidades individuais dos funcionários. Isso pode resultar em uma força de trabalho mais engajada, produtiva e alinhada com os objetivos da organização”, define.