Oportunidade e profissionalização
O futuro é próspero para a economia criativa no Brasil. O Observatório Nacional da Indústria (ONI) aponta que o país será responsável pela geração de um milhão de novas vagas até 2030. Com essa projeção, o volume de trabalhadores envolvidos na produção de bens e serviços criativos pode subir para 8,4 milhões em seis anos.
As perspectivas promissoras também devem impactar na demanda por profissionais com maior qualificação, à medida que as capacidades produtivas ficam mais estruturadas. Para o presidente do Porto Digital, o administrador Pierre Lucena, não há dúvidas de que a criatividade é inerente ao povo brasileiro, mas o desafio de transformar mentes criativas em negócios lucrativos, agregados de valor e que gerem renda para as pessoas, passa pela profissionalização.
“Essa é a importância da chegada de um ambiente como o do Porto Digital, que é especialista em criação de negócios de base tecnológica e de economia criativa. Cito a Mr. Plot Produções, que passou por uma incubadora nossa, como exemplo; pois ela é responsável por um dos cartões mais vistos do Brasil, que é o Mundo Bita”, revela.
Especialistas defendem alguns perfis profissionais para transformar empresas — como a responsável pela sensação infantil no Brasil — em potências mundiais da economia criativa. Perfis diversificados e dinâmicos, com habilidades em plataformas digitais e tecnologias criativas, devem ganhar destaque; assim como os habilitados para gestão, que podem gerir empresas culturais e carreiras artísticas, liderar negócios e empreendimentos voltados para tecnologia e inovação.
Por exigir qualificação para atuar de modo estratégico no mercado, com domínio de ferramentas de gestão, a professora Luciana Guilherme enxerga os setores de atuação na economia criativa como campo fértil para o profissional de Administração. O levantamento do Observatório Nacional da Indústria aponta que os profissionais da economia criativa recebem salários 50% maiores do que de outras áreas, com média salarial de R$ 4.018.
“São setores que demandam profissionais com habilidades estratégicas, com conhecimentos de gestão, mas também com uma sensibilidade artística e cultural profundas. O setor exige, ainda, compreensão clara acerca das dinâmicas culturais desses mercados de produtos simbólicos, portadores de conteúdo e promotores de experiência”, explica Luciana.
Centro Oeste
Assim como no Nordeste, o Centro-Oeste também caminha para potencializar a produção de bens e serviços a partir do conhecimento ou capital intelectual. A região mais de 9,5 mil empresas envolvidas com atividades criativas, de acordo com o Observatório Nacional da Indústria (ONI/ CNI).
O Distrito Federal é a 3ª unidade da federação que tem mais participação na soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país. Ele só fica atrás de Rio de Janeiro e São Paulo. Dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostram que a economia criativa nesses estados corresponde a 4,6% e 4,4% do PIB, respectivamente.
O último relatório Panorama Economia Criativa mapeou negócios pautados no desenvolvimento da arte, inovação e criatividade — responsáveis pela injeção de mais de R$ 9 bilhões à economia e pela participação de 3,5% no PIB em 2022. Cerca de 60% dos agentes criativos estão concentrados nas Indústrias Criativas Complexas, em áreas como publicidade, educação, turismo, eventos, feiras e festas, além dos segmentos de software, TV, rádio, jornal, conteúdo digital, audiovisual, arquitetura, moda, gastronomia e jogos.
“Elas são chamadas assim porque impactam outras indústrias tradicionais. A moda, por exemplo, envolve diretamente as indústrias do vestuário, de confecção e de tintas, mas os eventos nessa área acabam mobilizando a indústria da construção civil, com a infraestrutura de palco, a indústria eletroeletrônica — em razão do som e dos equipamentos que são necessários — e temos a segurança, a indústria de alimentação e assim por diante”, explica o professor Alexandre Kieling, coordenador do mestrado em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília, que conduziu a pesquisa.
O mapeamento no DF mostrou que cada local tem potência e capacidade diferentes para gerar trabalho e renda para a população, por meio da economia criativa. Para o professor e pesquisador, esse é um movimento que acontece em todo Brasil, por conta das características e riquezas de cada região.
“A gente vai encontrar, em cada estado, atividades bem estruturadas, organizadas e pujantes, já produzindo uma riqueza muito significativa. Belém do Pará, por exemplo, é uma cidade criativa da gastronomia; esse movimento vem tomando conta do Brasil e há uma percepção do significado que tem para a economia como um todo”, sentencia Kieling.