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Cidades Inteligentes, o que vem por aí e o que esperar

Com a expansão e barateamento de novas tecnologias, é só questão de tempo para elas tomarem a realidade de municípios de diferentes portes, mundo afora

Por Leon Santos

O conceito de cidades inteligentes, ou Smart Cities, tem ganhado destaque no cenário global como uma resposta inovadora aos desafios urbanos contemporâneos. A concepção do termo é ampla e engloba desde a infraestrutura urbana até a gestão de recursos e a participação cidadã.

Entre os principais pilares das cidades inteligentes estão a melhoria da mobilidade urbana, a sustentabilidade ambiental, a governança digital e a economia colaborativa. Segundo Roberto Kanter, professor da FGV e CEO da empresa Tempu — plataforma colaborativa de mentorias de negócios on-line —, os benefícios das Smart Cities incluem maior eficiência e produtividade, redução da burocracia e mais transparência, o que beneficia governos, empresas e instituições educacionais.

Kanter diz que a disponibilidade e qualidade das informações pode, ainda, atrair novos investimentos e promover o desenvolvimento sustentável da região. Para ele, o grande diferencial do conceito é a capacidade de trazer para cidadãos, empresas e comunidade informações e dados que oferecem a possibilidade de resolver desafios.

“O diferencial que as cidades inteligentes trazem é a capacidade de resolver desafios de maneira digital por meio de dados qualificados, pois antigamente nós ficávamos à mercê de pesquisas ruins. O novo paradigma que elas disponibilizam, portanto, é oferecer dados que ajudam os gestores a tomar melhores decisões em todas as esferas”, resume.

Como funciona

Sensores espalhados pela cidade coletam dados que são analisados para otimizar a gestão de recursos e de pessoas. Na mobilidade urbana, sistemas de transporte público inteligente monitoram fluxos de passageiros e ajustam horários e rotas para reduzir o tempo de espera e minimizar o congestionamento.

No âmbito da infraestrutura, sensores de movimento garantem economia de energia, ao iluminar apenas as áreas com a presença de pessoas. Já no abastecimento, sensores monitoram a qualidade da água, os níveis de reservatórios e detectam vazamentos automaticamente.

Na sustentabilidade, iniciativas como gestão inteligente de resíduos utilizam tecnologia para monitorar o nível de enchimento das lixeiras, permitindo coletas mais eficientes. Outro diferencial são os edifícios equipados com tecnologias de eficiência energética, que contribuem para redução das emissões de carbono; e no campo, as fazendas utilizam sistemas de irrigação controlados por dados meteorológicos que reduzem o uso de água em áreas de produção.

A segurança pública também se beneficia da tecnologia das Smart Cities. Câmeras de vigilância com inteligência artificial identificam comportamentos suspeitos e acionam autoridades automaticamente, além de sistemas de reconhecimento facial que auxiliam na identificação e captura de suspeitos em tempo real.

Já na área da Saúde, sistemas de telemedicina e de monitoramento remoto permitem que pacientes com doenças crônicas sejam acompanhados de forma contínua. Com isso, há melhora na resposta a emergências e na antecipação no caso de deslocamento a hospitais.

Transição

De acordo com o professor do departamento de administração da Universidade Federal Fluminense (UFF), Aurélio Lamare, para transformar um município em uma cidade inteligente, é preciso haver planejamento estratégico que considere a escala e as capacidades do município. O projeto deve estabelecer objetivos claros e promover governança inclusiva que engaje os cidadãos e explore parcerias público-privadas para financiamento e inovação.

Lamare acrescenta que soluções tecnológicas devem ser adaptáveis e escaláveis para acompanhar o crescimento e as mudanças urbanas, garantindo que os benefícios das cidades inteligentes sejam acessíveis a todos os cidadãos. Ele diz que a sociedade civil desempenha um papel crucial na transformação dos municípios em ambientes mais inteligentes e sustentáveis.

Para o pesquisador, a transição para cidades inteligentes, embora seja uma evolução natural diante dos desafios urbanos contemporâneos, enfrenta obstáculos significativos. Fatores como vontade política, recursos financeiros e infraestrutura tecnológica são determinantes para essa transformação.

“Enquanto algumas regiões podem avançar rapidamente rumo a este futuro, outras podem encontrar barreiras substanciais, especialmente onde falta compromisso político ou recursos. A transformação em cidades inteligentes não é inevitável em todos os contextos, mas exige esforços adaptados e inclusivos para se tornar uma realidade global”, sentencia.