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Contratações skills-based, saiba o que é e como funciona

Utilizada por grandes empresas, o método prioriza habilidades técnicas em resolver problemas, em detrimento de diplomas e certificados

Por Leon Santos

Mudanças em cenários de mercados cada vez mais disruptivos fizeram crescer o interesse das empresas pelas contratações do tipo skills-based. Diferente do método tradicional, que dá prioridade a diplomas e histórico profissional, o skills-base é um recrutamento com foco em habilidades e se concentra nas competências reais dos candidatos.

A nova modalidade ganhou força ainda durante a pandemia, quando empresas como Boeing, Walmart e IBM firmaram acordos com instituições e programas que fomentam o novo estilo de contratação, como Rework America Alliance, o programa Multiple Pathways, da Business Roundtable, e a campanha Tear the Paper Ceiling. Com isso, eliminaram a exigência de diploma para vagas específicas e passaram a trabalhar com outras organizações para ajudar seus funcionários a progredir de empregos de salários baixos para outros mais bem remunerados.

Segundo relatório da consultoria Mckinsey, o interesse pelas práticas baseadas em habilidades não ficou restrito ao mercado privado. Em 2022, o estado de Maryland (nos EUA) anunciou que não exigiria mais diploma universitário para quase 50% das vagas, abrindo milhares de vagas na área da saúde, no sistema prisional, na polícia e, até mesmo, em ocupações especializadas como engenharia.

Segundo o doutor em administração e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Favio Toda, o movimento é uma resposta do mercado, que ganhou expressão em ambientes como Educação, Tecnologia e Economia. Ele explica que em um cenário de valorização de pessoas e crescente concorrência, as empresas resolveram sair da orientação inicial centrada no trabalho ou tarefa, com definições claras de cargos e responsabilidades, para um modelo mais centrado no funcionamento de cada setor.

A contratação pelo modelo skills-based requer uma mudança de mentalidade não apenas no recrutamento. Passa por uma mudança de cultura da própria organização, não apenas deixando de exigir no recrutamento um diploma, mas também pela aceitação dos membros do RH e dos líderes das empresas à entrada de profissionais sem os certificados antes exigidos”, diz Toda.

Ainda de acordo com o pesquisador, empresas que se comprometem com o modelo Skills-Based — que representam cerca de 20% do mercado, em sua maioria pequenas empresas —, os trabalhadores contratados apresentam uma taxa de retenção de 10% maior do que os trabalhadores com diplomas. Além disso, possuem aumento salarial 25% a mais que os profissionais diplomados.

Seleção

Segundo a executiva em recursos humanos e consultora da empresa Recrutalent, Maria Aparecida de Almeida, habilidades técnicas ganham mais ênfase nos processos seletivos que contemplam o modelo skills-based. Mas destaca que as empresas necessitam de profissionais mais estratégicos diante de ambientes cada vez mais incertos.

A consultora destaca que diante das inovações do mercado, os profissionais precisam continuamente estudar, aprender e, coletivamente com outros profissionais, desenvolver inovações internas e melhorias. Soft Skills que apoiam o autodesenvolvimento, como autodidatismo e automotivação estão em alta, segundo ela, assim como habilidades de relacionamento e valores como solidariedade, gratidão e justiça.

“Após o processo seletivo, também é importante monitorar, junto às áreas, quais deficiências são percebidas e as habilidades que serão exigidas no futuro. O uso, por exemplo, da inteligência artificial é uma habilidade que atualmente vem sendo muito demandada para o desenvolvimento das skills, pois ela proporciona a redução de tempo e custos de tarefas que podem ser realizadas pelo computador”, diz.

Modelo no Brasil

Embora o modelo de contratação skills-based seja aceito em outros países, no Brasil não são todas as carreiras que podem adotá-lo, pois esbarra nas legislações federais que regem as profissões regulamentadas. É o caso de profissões como administrador, advogado e médico, que para poder atuar no mercado é preciso ter curso superior na área e registro nos respectivos conselhos profissionais de classe.

No âmbito da gestão, quem regula e fiscaliza o exercício profissional são os Conselhos Federal e Regionais de Administração (CFA e CRAs). Da mesma forma, também amparadas por legislação federal, para atuar na advocacia e no segmento médico é obrigatório ter curso superior na respectiva área e registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e nos Conselhos Federal e Regionais de Medicina (CFM e CRM).