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Educação por telas – países promovem volta dos livros impressos, descubra por quê

Suécia e outros países abandonam tecnologia e retornam livros impressos para crianças e jovens. No Brasil, especialistas alertam para o perigo do excesso de telas

Por Ana Graciele Gonçalves 

Em uma reviravolta surpreendente na abordagem educacional, a Suécia decidiu em 2022 abandonar o uso massivo de tecnologia no ensino de crianças e adolescentes, optando por reintroduzir os tradicionais livros impressos nas salas de aula. A mudança ocorre após anos de investimento maciço em dispositivos digitais como ferramentas educacionais. 

A medida foi adotada após o governo sueco se deparar com os resultados do Progress in International Reading Literacy Study, o Pirls 2021 — um teste internacional que avalia as habilidades de leitura de alunos do quarto ano do Ensino Fundamental, e o índice das crianças da Suécia piorou entre 2016 e 2022. O movimento entra em consonância com uma tendência emergente em outros países, que começam a perceber tais problemas. 

Além da Suécia, outro exemplo vem de Taiwan, que criou lei para restringir o tempo de uso de celulares, tablets e computadores para crianças e adolescentes. A China e a Coreia do Sul têm legislações parecidas, cujo objetivo é diminuir os impactos negativos do uso excessivo de dispositivos com telas. 

Segundo o professor de Literatura e Língua Portuguesa, e coordenador do curso de Letras da Universidade Metodista de São Paulo, Silvio Pereira, a Suécia dedicou anos de trabalho, estudos e pesquisas para chegar à tal conclusão. O resultado fundamenta uma revisão no uso da tecnologia em sala de aula, na produção dos materiais didáticos e na forma como os recursos tecnológicos estarão presentes nas aulas. 

“As análises realizadas pelos especialistas indicaram problemas em determinadas áreas, como, por exemplo, na apreensão de conteúdos presentes em um texto quando está somente na tela. Revela, ainda, que o veículo ou suporte que permite o acesso ao texto interfere no processo de leitura e interpretação”, destacou. 

Contramão 

O Brasil, ao contrário de outros países, vai na contramão de novas pesquisas sobre o tema. Em São Paulo, o governo quer adotar apenas obras digitais para alunos do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio. Silvio questiona tal proposta de ensino. 

O professor acredita que, da forma como foi exposto pelas autoridades estaduais, há certa incompreensão do cenário atual de educação. “Fica evidente que há, nessas escolhas, um posicionamento conservador em relação ao processo de ensino-aprendizagem, que se fundamenta na figura do professor como transmissor de informações, deixando ao aluno na condição de coadjuvante do processo.”, comentou. 

Silvio ainda aponta outro problema no uso dos dispositivos com tela: a incompreensão em relação à construção cognitiva e ao uso de materiais didáticos, obsoletos para o atual momento, e à qualidade da educação. “Os gestores da educação no estado de São Paulo estão confundindo padronização de materiais didáticos com melhoria na qualidade de ensino, pois afirmaram em entrevistas, tanto o secretário quanto o governador, que o uso de obras e materiais digitais permite que todos tenham a mesma aula, com a mesma qualidade”, criticou. 

Excesso de tecnologia 

Doutor em Educação e um dos maiores escritores de literatura infantil do país, com best-seller publicado, Ilan Brenman alerta para o perigo que o uso de telas pode causar na infância. Segundo ele, os males vão muito além dos problemas oculares ou no corpo em geral, uma vez que tal tecnologia prejudica a aprendizagem linguística da criança. 

“Tirem as telas da frente de seus filhos! Já temos muitos estudos e materiais publicados alertando para os malefícios que isso traz. Tenho relatos de fisioterapeutas falando de crianças com problemas na coluna, por exemplo, devido ao tempo que gastam em frente às telas”, alertou. 

Aceleração mental, distração que afeta, sobretudo, o aprendizado, relações sociais e repertórios linguísticos comprometidos, bem como a fragmentação da atenção estão entre os problemas relatados pelo escritor. “O que eu proponho é que vocês deem banhos diários de linguagem narrativa para seus filhos, por meio de leituras em voz alta e muitas brincadeiras”, sugeriu. 

Em entrevista para o canal do médico e apresentador Dráuzio Varella, no Youtube, o pediatra Daniel Becker revelou que as crianças precisam de convivência ‘olho no olho’. A falta de interação, segundo o médico, reflete nas relações emocionais, inclusive na vida adulta. 

“Se eu falar para você fechar os olhos e imaginar uma criança saudável, certamente você vai imaginar um bebê no colo da mãe ou, se for uma criança maior, vai vê-la correndo livre em um parque. Ninguém vai imaginar a criança com um tablet.”, disse. 

Outros médicos e especialistas fazem o mesmo apelo. A psiquiatra Ana Beatriz Silva, uma das maiores especialistas em transtornos mentais do país, fala sobre as redes sociais, entre elas o TikTok. 

“Na China o Tik Tok é proibido, e ele é uma rede social chinesa. Quem vai querer uma juventude e uma mão de obra jovem idiotizada, em manada? O cara está ali, te dando uma ferramenta, para manipular o outro, que pode fazer uma autodestruição no outro, e aqui (Brasil) está tudo ok”, relatou. 

De acordo com recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de telas na infância deve ser restrito. Os menores de dois anos de idade não devem ter acesso algum. Entre dois e cinco anos, permanência máxima de uma hora por dia, e entre seis e dez anos, o tempo deve ser de até no máximo duas horas.