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Guerra, economia e gestão

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Conflito entre Rússia e Ucrânia afeta a economia brasileira, já fragilizada pela pandemia

Por Ana Graciele Gonçalves

A guerra entre Rússia e Ucrânia completou mais de três meses, e os ucranianos ainda têm dificuldades em conter o avanço russo no leste do país, em especial na região do Donbass, que inclui cidades estratégicas como Lugansk e Donetsk. De acordo com a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Malyar, o conflito atingiu sua intensidade máxima e a guerra entrará, provavelmente, em uma fase longa e difícil.

Embora o confronto seja a milhares de quilômetros do Brasil, os efeitos já são sentidos, principalmente, no bolso dos brasileiros. Durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos (na Suíça), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a inflação em todo mundo está subindo, e o cenário, segundo ele, é o de “águas turbulentas pela frente”.

Em maio deste ano, o Brasil teve a quarta maior inflação entre os países que compõem o G20, grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo — segundo dados da ‘Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)’. O país bateu a marca de 12,1%, ficando atrás da Turquia (69,9%), Argentina (58%) e Rússia (17,8%).

Para o presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Mauro Kreuz, o cenário pode piorar, tendo em vista a cotação dos preços em dólar americano, moeda que lidera as transações internacionais. Ele diz que é preciso buscar com urgência um plano de contingência para evitar o agravamento do problema.

“Se já tínhamos experiências inflacionárias preocupantes, com a perda do poder aquisitivo e com os altos preços de derivados de petróleo como gasolina, óleo diesel e gás, isso tenderá obviamente a se agravar. Além disso, todas as relações no campo diplomático devem ser impactadas, pois delas derivam todas as questões políticas e econômicas com as suas vantagens e desvantagens.”, justificou.

O presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, compartilha da mesma opinião. Segundo ele, o Brasil já estava enfrentando a inflação, mas o conflito entre Rússia e Ucrânia a deixou fora de controle.

Para o executivo, o momento é de incerteza, pois todos os países estão com inflação elevada e tentam comprar no menor preço. Em abril de 2022, as importações brasileiras cresceram 35%, em preço, e as exportações cresceram 19%, o que demonstra déficit na balança comercial (comprar mais do que vender, em comércio internacional).

Castro destaca que o último superávit (vender mais do que comprar) foi em 2017, quando o Brasil exportou US$ 2,73 bilhões e importou US$ 2,66 bilhões da Rússia. No comércio internacional, vender mais produtos do que comprar significa lucro ou enriquecimento da economia de um país.

“Depois disso, só tivemos déficits comerciais. Em 2021 exportamos US$ 1,5 bilhão para os russos e importamos mais de US$ 5,69 bilhões, 107% a mais do que em 2020. Ou seja, um déficit enorme”, comentou o presidente da AEB.

Motivo

Uma das razões para a alta da inflação nacional são as sanções econômicas impostas à Rússia. A medida afetou, principalmente, o mercado financeiro — que em médio e longo prazo começou a contagiar a economia local, com restrições a importações e ao comércio exterior.

O Brasil é hoje um dos principais países que compram fertilizantes e petróleo do país europeu. Atualmente, 70% dos fertilizantes utilizados no País são importados, sendo a Rússia o maior fornecedor (com 23%), seguido pela China (14%), Marrocos (11%) e Canadá (10%).

O principal produto nacional vendido aos russos é a soja, seguidos do café torrado, amendoim, açúcar e carne bovina. Para o presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o país terá que encontrar um novo caminho para importar fertilizantes e também exportar seus produtos ao país de Putin.

“O que sabemos é que sem o fertilizante a nossa agricultura será afetada; a produtividade vai cair e impactar nossas exportações. Teremos, ainda, dificuldade em escoar nossos produtos à Rússia devido ao bloqueio econômico”, ressalta.

Gestão como solução

Segundo o presidente do CFA, Mauro Kreuz, a guerra e seus prejuízos humanos e econômicos poderiam ser evitados. Ele acredita que faltaram lideranças mais habilidosas, à revelia de interesses geopolíticos e estratégicos, que estão ocultos dentro do conflito.

O administrador ressalta que um dos pontos mais fortes da administração, e que deveria ter sido utilizado no conflito, é negociar e chegar a termos favoráveis para ambas as partes. Além disso, ele ressalta que cada setor da economia, das duas nações, deveria ter avaliado e mitigado (atenuado) os riscos.

“Em momentos como esse percebemos o quanto a gestão está relacionada a tudo, pois o conflito armado se iniciou por falta de administração na sua maior habilidade e ecletismo, que é a habilidade de negociar e de sobrepor interesses maiores. Era possível evitar os danos de uma guerra, que é sempre pior do que qualquer legítimo interesse econômico ou geopolítico que possa existir”, sentencia.