Liderança é tema em voga há algum tempo. Livros, apostilas, palestras e toda a sorte de dicas e receitas surgem diariamente dissecando o assunto, traçando uma anatomia vã do líder ideal. Análises démodé que, mesmo assertivas em características, apresentam teorias natimortas, desconsideram aspectos conjunturais formadores – ou deformadores – de lideranças.
O líder genuíno, acreditem, está à beira da extinção e só pode ser resgatado pela percepção sistêmica do ato de liderar. Muitos já disseram que o líder precisa ser admirado por seus liderados, uma fonte de inspiração para a equipe, entre outras coisas. Concordo e vou além. O verdadeiro líder sente-se, a um só tempo, insatisfeito e decidido, insuficiente e confiante, aprendiz e mestre, interdependente e autônomo, aberto e convicto. Uma dualidade que explora virtudes e transforma imperfeições em campo fértil. A questão real encontra-se antes da liderança. O ambiente organizacional está propício ao exercício da verdadeira liderança ou contaminado pela pulverização de interesses individuais, asfixiantes do coletivo, e amigo íntimo da burocracia excessiva usurpadora do progresso? O que predomina é a segunda alternativa. A atmosfera que pede liderança rechaça-a ao mesmo tempo. Como pode um líder ser empreendedor se, para empreender, carece do aval burocrático? Como executar ações que dependem da celeridade de tomada de decisão concisa de um perito se os bucólicos processos jurídicos, vez em tantas, engessam-no? O líder não mais lidera, atende aos anseios de satisfação de um cartesianismo improdutivo.
Como seguiria uma carruagem se o cocheiro tivesse de atender às particularidades de cada cavalo, em lugar de ser atendido por eles no esforço de seguir em frente? Não alcançaria seus objetivos. O sistema que não trabalha para fomentar uma liderança sólida, objetiva e producente equivale a um motor automotivo sem marcha, ainda que acelerado: só consome combustível e não avança um centímetro.
Estão matando os nossos líderes, ou melhor, impedindo que nasçam. Dentro de muitos de nós, a liderança pode estar pulsando à espera da oportunidade ideal para a emersão. E se existe a essência, se circula entre as organizações o mais puro espírito condutor de legiões, antes de focar sua anatomia pura e simples a fim de criar Frankenstein, é preciso concentração naquilo que o aniquila. Leão no mar é isca de tubarão, vulnerável e indefeso. Assim reconhecemos a maioria das lideranças atuais, fora do seu habitat, passivas dos mecanismos que deveriam apoiá-las, líderes lobotomizados. Assim como os felinos reis da selva, o verdadeiro líder não pode ser tolhido de sua natureza sob pena de tornar-se apenas mais uma isca fragilizada nas garras de uma burocracia devoradora do progresso.
Adm. Wagner Siqueira Presidente do Conselho Federal de Administração (CFA)
CRA-RJ nº 01-02903-7