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Saiba como sair de uma empresa deixando as portas abertas para um possível retorno

Seja por mudança de emprego, ou demissão, o que deve ou não ser feito? Saiba mais sobre dilema que provavelmente já fez parte de sua vida profissional

Por Leon Santos

Sair de uma empresa, seja a pedido ou por demissão, é algo que pode acontecer com qualquer pessoa que não possui seu próprio negócio. Mas como proceder de maneira mais apropriada nos dois casos?
Imagine o cenário. Certo dia você recebe o convite para trabalhar em outra empresa, uma oferta irrecusável: melhores salário e benefícios, um atraente ‘plano de progressão de cargos e salários’, ambiente informal, horários flexíveis, e ainda por cima fica perto de sua casa.

Do outro lado existe a sua atual empresa, que outrora o acolheu e onde você tem bom ambiente de trabalho e outras regalias de quem já está há algum tempo na casa. Como sair dessa empresa ‘pela porta da frente’, sem deixá-la em maus lençóis? Ou seja, com excesso de demandas para seus antigos colegas, sem alguém para preencher sua vaga (tendo em vista conhecimentos que só você possuía), bem com todas as consequências que uma saída não programada pode acarretar.

Segundo a psicóloga e gestora em recursos humanos, Danyelle Barreto, nesse momento é importante tomar alguns cuidados para garantir uma transição suave e minimizar impactos negativos que afetem o antigo empregador. Se possível, ela recomenda comunicar a saída com alguma antecedência e seguir as diretrizes do contrato de trabalho, tal como possibilitar aviso prévio adequado para que a empresa tome as medidas necessárias para preencher a vaga e redistribuir as tarefas.

Ainda segundo Danyelle, durante o período de transição, outra boa prática é oferecer ajuda para compartilhar conhecimentos, e treinar o colega que vai assumir as responsabilidades, garantindo uma saída mais leve e menos traumática. Tais ações ajudam a minimizar qualquer lacuna de conhecimento ou excesso de demanda que possa surgir após a saída do funcionário.

“Por fim, ao comunicar a decisão de um desligamento, é necessário ser transparente e profissional. Explicar as razões pelas quais você está saindo e destacar a gratidão pela oportunidade de trabalho atual, nunca é demais”, ressalta Danyelle.

Reações

Segundo a administradora e especialista em Gestão de Pessoas, Léxia Lopes, ela já ouviu relatos de colegas e conhecidos sobre gestores que ficaram ressentidos pela saída dos funcionários e, com isso, penalizaram o empregado que está deixando a empresa. As retaliações acontecem de múltiplas formas, tais como no atraso da documentação (baixa na carteira) ou quando tentam difamar a imagem do colaborador para os colegas da equipe.

Léxia conta, ainda, que algumas empresas podem fechar as portas para aqueles que pedem demissão, e nem cogitam avaliar o motivo que fez o funcionário decidir partir. A especialista diz, no entanto, que as retaliações têm sido cada vez menos frequentes, tendo em vista que as instituições têm percebido que o colaborador que se demite está em busca de algo que a atual empresa não pode oferecer.

“Nas novas gerações, que estão entrando no mercado de trabalho, isso tem sido cada vez mais evidente (mudança de emprego). Temos visto profissionais cada vez mais sedentos por valores e propósitos, com necessidade imediata em atender suas expectativas e, quando não são atendidas, eles tomam logo a decisão de mudar de emprego”, relata.

Saída por demissão 

Ser demitido nunca é fácil, entre os sentimentos mais comuns estão a impotência, tristeza, preocupação com as contas a pagar ou mesmo revolta. Mas como proceder em tal situação, que na maioria das vezes não pode ser revertida, de forma profissional e sem queimar o próprio filme no mercado?

A gestora em Recursos Humanos, Danyelle Barreto, fez uma lista de erros mais frequentes praticados pelos colaboradores que são demitidos, e que devem ser evitados. São eles: 1) reagir emocionalmente, com animosidade ou tristeza exacerbada (choro); e 2) falar mal da antiga empresa e dos ex-colegas.

“Fazer comentários negativos pode ser visto como falta de profissionalismo e prejudicar sua reputação. Em vez disso, concentre-se nos aspectos positivos obtidos naquela empresa”, aconselha.

A lista de equívocos continua, e a gestora diz que outro ponto fundamental que deve ser evitado é 3) sumir ou manter-se distante de todos por vergonha, revolta ou qualquer outro tipo de sentimento. Ao contrário, ela recomenda manter a rede de contatos profissionais (networking) ativa e renovada.

Por fim, no ato da demissão, ela diz que 4) é importante pedir feedbacks construtivos (sem tom de cobrança) sobre o próprio desempenho e pontos que precisam de melhorias para oportunidades futuras. Segundo ela, isso demostra maturidade e disposição em aprender e crescer profissionalmente.

Demissão Humanizada 

Segundo Sylvia Hartmann, realizar uma demissão de forma humanizada é possível e recomendável. Ela diz que o rito de desligamento faz parte de um processo amplo que é antecedido por conversas individuais e frequentes, feedbacks positivos e negativos e planos acionáveis de desenvolvimento para proporcionar chances de mudança.

Quando a demissão se torna uma certeza, Sylvia diz que a única forma de reduzir e atenuar os impactos negativos é conversar de forma aberta, sem demonstrar emoções negativas como raiva ou arrogância. Além disso, explicar as razões da demissão, sem repetir e detalhar as falhas novamente (pois já houve feedbacks), e ressaltar os pontos positivos que a pessoa pode manter para o próximo trabalho.

“A demissão requer uma conversa cuidadosa, com muita empatia e paciência: se for virtual, sempre ter com a câmera aberta e de preferência com poucas pessoas. Porém, os principais erros das empresas são demitir sem ter dado feedback, antes, e tratar a demissão de forma desrespeitosa: por e-mail, de forma virtual e sem câmera; ou mesmo presencial, mas com pressa, indiferença e de forma impaciente”, explica.

Já para Léxia Lopes, cada demissão é uma experiência peculiar, e é preciso ser empático e estar consciente que naquele momento o gestor que vai demitir está representando a empresa. Isso ajuda a definir os limites comportamentais daquele momento.

“Por mais números, resultados e dados que se considere para chegar até essa decisão, do outro lado é um ser humano que estará sendo desligado e que terá a vida pessoal impactada. É um pai, uma mãe, um filho que ajuda nas despesas de casa; por isso é preciso ser empático e haver um processo humanizado”, defende.

Rito de demissão humanizada (Fonte: Léxia Lopes) 

Para a administradora Léxia Lopes, o processo demissional de forma humanizada deve seguir etapas que podem inclusive interferir em todo o processo. São eles:

Ter o histórico dos fatos que o fizeram chegar na decisão da demissão;

Preocupar-se com a experiência na jornada do colaborador durante a demissão;

Estar preparado emocionalmente para fazer o comunicado;

Estar com os documentos em mãos, no ato do registro da comunicação de demissão;

Acompanhar o colaborador até a finalização de todo o processo de desligamento.

A Grande Virada

Há casos em que um colaborador que já foi demitido de uma empresa ou que ‘pediu as contas’ volta a trabalhar na mesma organização. E como é possível fazer isso?

Para Sylvia Hartmann, tais colaboradores apresentam atitude positiva diante da adversidade, bom relacionamento com todos stakeholders e superam as expectativas na entrega de resultados. Também apresentam postura positiva na hora de sair e, principalmente, a manutenção das relações depois de sair da empresa.

“Essas pessoas conseguem reunir profissionalismo, bom relacionamento e um histórico positivo dentro da empresa. E, provavelmente, elas fizeram um bom networking com alguém da empresa — que tem influência para esse retorno —, e mostram assimilar aquela velha máxima ‘quem não aparece não é lembrado’; no entanto neste caso felizmente é o contrário”, sentencia.