Termo explica por que determinadas nações têm predisposição para serem seguidas e, portanto, líderes, enquanto outras adotam perfis de seguidoras
Por Rodrigo Miranda
O conceito de “soft power” tem ganhado relevância no cenário internacional, mas ainda tenta crescer no Brasil. O termo surge como um indicador crucial para medir o alcance e a influência global de uma nação.
Soft Power é a capacidade de influenciar e atrair outros países por meio de formas não opressivas. O termo tem se tornado uma das principais métricas para avaliar a posição de um país.
O acadêmico Joseph Nye classificou o conceito como sendo a habilidade de um país influenciar outras nações de forma não coercitiva: por meio de sua cultura, valores, diplomacia e atratividade política. É, portanto, a capacidade de conquistar corações e mentes ao redor do mundo, gerando simpatia e colaboração.
A divulgação recente do Global Soft Power Index colocou em evidência a posição do Brasil, que ocupa a 31ª posição entre os 50 países líderes nesse quesito. Eduardo Galvão, mestre em ‘Direito das Relações Internacionais’ e professor de políticas públicas e relações institucionais do Ibmec-DF, afirma que para subir no ranking, o Brasil pode investir em seu potencial de Soft Power relacionado a Amazônia, sustentabilidade, mudanças climáticas e combustíveis renováveis.
Galvão explica que a Amazônia, como um ícone global da biodiversidade e da questão climática, posiciona o Brasil como um player chave no debate ambiental internacional. Ao adotar e promover políticas de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável, o Brasil pode melhorar significativamente sua imagem global.
“Isso consiste em investir em energias renováveis, como a bioenergia, que o Brasil já é um líder mundial, e fortalecer as iniciativas de proteção ambiental. Ao demonstrar compromisso com a gestão responsável de seus recursos naturais e liderança em questões climáticas globais, o Brasil pode atrair a atenção e admiração internacional, elevando sua influência e posição no Global Soft Power Index”, diz o pesquisador.
Potencializadores
Para entender os critérios que impulsionam o Soft Power de um país, é necessário considerar fatores como poder econômico, recursos ambientais e culturais, influência global e atração turística. Nesse sentido, o Brasil possui recursos naturais invejáveis, uma rica diversidade cultural e um patrimônio histórico vasto, que poderiam ser alavancados para fortalecer sua presença internacional.
O país enfrenta, no entanto, desafios significativos no caminho para uma posição de destaque no cenário do Soft Power. Problemas como a segurança pública e a burocracia excessiva impactam diretamente a percepção internacional do país.
Para Galvão, a incoerente política externa alternando entre engajamento e isolamento prejudica a credibilidade e confiabilidade do Brasil como parceiro internacional. A falta de posicionamento mais claro em fatos como a guerra entre Rússia e Ucrânia faz do país apenas um observador e coadjuvante em relação a importantes decisões internacionais.
“As crises internas, como corrupção e polarização política, também afetam negativamente a nossa imagem global. Dificultam a construção de uma narrativa coesa e atraente de Soft Power, e a falta de uma estratégia clara e consistente para projetar e aproveitar seus ativos culturais e naturais também limita sua influência e capacidade de desempenhar um papel de liderança em questões globais como sustentabilidade e direitos humanos”, afirma Galvão.
Para alçar voos mais altos e se tornar de fato uma potência global, em todos os aspectos, é fundamental que sejam adotadas medidas eficazes para maximizar o Soft Power brasileiro e superar obstáculos que impedem o seu pleno potencial. Investir em educação, cultura e diplomacia pode ser a chave para fortalecer o Soft Power brasileiro e aumentar sua influência no mundo.
Protagonismo
Nauê Bernardo Azevedo, professor de Ciências Políticas do Ibmec-Brasília, destaca que é preciso que o país retome o papel de liderança que já possuiu um dia. Ao mesmo tempo em que precisa entender e se adequar ao novo formato de distribuição de forças e capacidades no cenário internacional, precisa avaliar e tomar partido de questões que considere importantes.
A possibilidade de determinado país fazer com que outros possam ter seus comportamentos influenciados a partir de sua capacidade de negociação por meios pacíficos é algo que requer extrema atenção. Pode trazer benefícios, mas também riscos que precisam ser extremamente calculados.
“A melhora no ranking possivelmente tem mais a ver com o impacto que a melhora do Soft Power tem sobre o futuro do país do que o contrário. Um país que possui mecanismos não-coercitivos para influenciar outros, a ponto de ser imensamente reconhecido por esta capacidade, certamente encontrará ou construirá mais facilidades e soluções em negociações multilaterais ou mesmo bilaterais”, destaca Azevedo.