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Economia Criativa está mais em alta do que nunca

Setor é parte da cultura dos brasileiros e pode impulsionar o mercado e moldar futuro da economia nacional

Por Adriana Mesquita

A economia criativa no Brasil representa 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e possui força de trabalho na casa dos 7%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Observatório Itaú Cultural. São mais de 130 mil empresas de cultura e indústrias criativas em atividade no país.

Segundo a administradora e professora do Mestrado Profissional em Economia Criativa Estratégia e Inovação da faculdade ESPM Luciana Guilherme, a economia criativa é um meio que rege múltiplas redes de profissionais criativos e geram produtos simbólicos com alto valor agregado e impacto na sociedade. Corresponde às dinâmicas de criação, produção, divulgação, distribuição e consumo de setores produtivos baseados na cultura e na criatividade.

“Estamos falando de setores de patrimônio que contemplam museus e sites arqueológicos, de setores relacionados com a produção e a realização de festas, celebrações artísticas e culturais, que contemplam desde festivais de música até as festas juninas e o próprio carnaval. Inclui, ainda, o audiovisual, ou seja, o cinema, o vídeo, a TV e os jogos digitais, além de atividades relacionadas à publicidade, ao marketing, à arquitetura e ao design, em suas mais variadas modalidades”, explica Luciana.

Criatividade no DNA do brasileiro

Dados do Observatório Nacional da Indústria (ONI/ CNI) destacam as regiões Sudeste, com 56.222 empresas, e Sul, com 31.643, como protagonistas na concentração de organizações dedicadas à economia criativa. Mas outras regiões como a Nordeste já se movimentam para alcançarem posições de destaque no cenário nacional, com mais de 16 mil empresas dedicadas à economia criativa.

Localizado na área central do Recife-PE e com atuação há 23 anos, o Porto Digital é reconhecido como um dos principais parques tecnológicos e centros de inovação da América Latina. Com 18 mil colaboradores, distribuídos em mais de 400 empresas, gerando um faturamento anual de R$ 5,4 bilhões, o parque abrange os setores de produção de software, serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e Economia Criativa.

O Centro de Empreendedorismo e Tecnologias da Economia Criativa é o braço do Porto Digital na Economia Criativa. O Portomídia conta com instalações e incubadora próprias, além de programas de qualificação, exibição e desenvolvimento nas áreas de design, cinema, vídeo, animação, games, mídias digitais, fotografia e música. São quatro núcleos funcionais: educação, empreendedorismo, experimentação e exibição.

“Em Pernambuco, temos alguns pólos importantes: Caruaru e Petrolina. Caruaru é muito vocacionada para os setores de texto e design, então a gente acredita que pode incorporar muito valor a esses ambientes de negócio, principalmente, na questão da formação (profissional) e de novos negócios empreendedores — que a gente pretende colocar com muita força lá”, diz o administrador Pierre Lucena, presidente do Porto Digital.

Inclusão Social

Para Luciana Guilherme, professora da ESPM, a economia representa uma grande potencialidade e já faz parte da cultura brasileira. É praticada mesmo por quem nem sequer sabe o que o termo significa.

Segundo Luciana, muita gente tem ganhado dinheiro com a economia criativa, mesmo sem conhecer a potência do segmento, que está valorizado e tende a ganhar ainda mais relevância nos próximos anos, em razão da riqueza cultural e criativa do país. “Muito antes de surgir o termo, ela já existia enquanto dinâmica e prática, por isso muita gente já fazia parte da economia criativa e já contribuía com ela, embora não reconhecesse o seu significado e a sua potência”, esclarece Luciana.

Quanto à inclusão social, além de relevante contribuição para o cenário econômico, a circulação de bens e serviços ligados às artes, cultura, tecnologias e mídias também tem papel de destaque, sobretudo em nações emergentes como o Brasil — onde o potencial para o desenvolvimento sustentável e a diversidade cultural é cada vez mais reconhecido. O avanço passa pela superação de desafios, em meio a uma sociedade mais automatizada e cheia de tecnologias, mas que precisa de criatividade.

“A gente trabalha na perspectiva de um desenvolvimento sustentável, se alinhando com as agendas das organizações internacionais, como ONU e UNESCO. Há uma perspectiva que requer e merece o olhar da potencialidade que a economia criativa tem no Brasil e do que ela pode significar para ajudar a resolver — no que se refere à inclusão social e econômica de periferias, de fronteiras e de territórios, que não são atingidos pela economia central”, resume Alexandre Kieling, coordenador do mestrado em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília.

Oportunidade e profissionalização

O futuro é próspero para a economia criativa no Brasil. O Observatório Nacional da Indústria (ONI) aponta que o país será responsável pela geração de um milhão de novas vagas até 2030. Com essa projeção, o volume de trabalhadores envolvidos na produção de bens e serviços criativos pode subir para 8,4 milhões em seis anos.

As perspectivas promissoras também devem impactar na demanda por profissionais com maior qualificação, à medida que as capacidades produtivas ficam mais estruturadas. Para o presidente do Porto Digital, o administrador Pierre Lucena, não há dúvidas de que a criatividade é inerente ao povo brasileiro, mas o desafio de transformar mentes criativas em negócios lucrativos, agregados de valor e que gerem renda para as pessoas, passa pela profissionalização.

“Essa é a importância da chegada de um ambiente como o do Porto Digital, que é especialista em criação de negócios de base tecnológica e de economia criativa. Cito a Mr. Plot Produções, que passou por uma incubadora nossa, como exemplo; pois ela é responsável por um dos cartões mais vistos do Brasil, que é o Mundo Bita”, revela.  

Especialistas defendem alguns perfis profissionais para transformar empresas — como a responsável pela sensação infantil no Brasil — em potências mundiais da economia criativa. Perfis diversificados e dinâmicos, com habilidades em plataformas digitais e tecnologias criativas, devem ganhar destaque; assim como os habilitados para gestão, que podem gerir empresas culturais e carreiras artísticas, liderar negócios e empreendimentos voltados para tecnologia e inovação.

Por exigir qualificação para atuar de modo estratégico no mercado, com domínio de ferramentas de gestão, a professora Luciana Guilherme enxerga os setores de atuação na economia criativa como campo fértil para o profissional de Administração. O levantamento do Observatório Nacional da Indústria aponta que os profissionais da economia criativa recebem salários 50% maiores do que de outras áreas, com média salarial de R$ 4.018.

“São setores que demandam profissionais com habilidades estratégicas, com conhecimentos de gestão, mas também com uma sensibilidade artística e cultural profundas. O setor exige, ainda, compreensão clara acerca das dinâmicas culturais desses mercados de produtos simbólicos, portadores de conteúdo e promotores de experiência”, explica Luciana.

Centro-Oeste

Assim como no Nordeste, o Centro-Oeste também caminha para potencializar a produção de bens e serviços a partir do conhecimento ou capital intelectual. A região mais de 9,5 mil empresas envolvidas com atividades criativas, de acordo com o Observatório Nacional da Indústria (ONI/ CNI).

O Distrito Federal é a 3ª unidade da federação que tem mais participação na soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país. Ele só fica atrás de Rio de Janeiro e São Paulo. Dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostram que a economia criativa nesses estados corresponde a 4,6% e 4,4% do PIB, respectivamente.

O último relatório Panorama Economia Criativa mapeou negócios pautados no desenvolvimento da arte, inovação e criatividade — responsáveis pela injeção de mais de R$ 9 bilhões à economia e pela participação de 3,5% no PIB em 2022. Cerca de 60% dos agentes criativos estão concentrados nas Indústrias Criativas Complexas, em áreas como publicidade, educação, turismo, eventos, feiras e festas, além dos segmentos de software, TV, rádio, jornal, conteúdo digital, audiovisual, arquitetura, moda, gastronomia e jogos.

“Elas são chamadas assim porque impactam outras indústrias tradicionais. A moda, por exemplo, envolve diretamente as indústrias do vestuário, de confecção e de tintas, mas os eventos nessa área acabam mobilizando a indústria da construção civil, com a infraestrutura de palco, a indústria eletroeletrônica — em razão do som e dos equipamentos que são necessários — e temos a segurança, a indústria de alimentação e assim por diante”, explica o professor Alexandre Kieling, coordenador do mestrado em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília, que conduziu a pesquisa.

O mapeamento no DF mostrou que cada local tem potência e capacidade diferentes para gerar trabalho e renda para a população, por meio da economia criativa. Para o professor e pesquisador, esse é um movimento que acontece em todo Brasil, por conta das características e riquezas de cada região.

“A gente vai encontrar, em cada estado, atividades bem estruturadas, organizadas e pujantes, já produzindo uma riqueza muito significativa. Belém do Pará, por exemplo, é uma cidade criativa da gastronomia; esse movimento vem tomando conta do Brasil e há uma percepção do significado que tem para a economia como um todo”, sentencia Kieling.