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Ética, saiba por que ela é um dos principais motivos de demissões na atualidade

Tema ganha destaque após grande número de demissões de executivos envolvendo falta de ética

Por Rodrigo Miranda 

Têm sido cada vez mais comuns relatos de casos de assédio, problemas de conduta e preconceitos no ambiente de trabalho. Desvios éticos que vão desde comportamentos inadequados no ambiente de trabalho até transgressões graves tornaram-se a principal causa de demissões de altos executivos, segundo um estudo recente realizado pela PricewaterhouseCoopers (PwC).

O estudo revelou um dado impactante: pela primeira vez em 19 anos de pesquisa, os desvios éticos foram responsáveis por 39% das demissões dos executivos analisados. Em termos de comparação, em 2008, durante a crise financeira global, a principal razão para demissões estava relacionada a problemas econômicos, seguidos por conflitos com a diretoria das empresas.

Diante de tal cenário, repleto de debates sobre governança corporativa, surge um fator crucial que muitas vezes é deixado de lado, mas que pode ser a raiz dos desafios que vão desde conflitos internos até casos judiciais: a ética. O grande crescimento dos desligamentos, motivados por questões éticas, evidencia uma mudança de paradigma nas prioridades corporativas.

Para Pedro Piccoli, professor de administração da PUC-PR, uma das principais explicações para esse cenário está na crescente atenção da sociedade para os desvios de conduta, majoritariamente nas posições de liderança. Ele destaca a importância de um ambiente institucional que permita e facilite o acompanhamento das condutas organizacionais.

“Neste contexto a divulgação de relatórios socioambientais por parte das organizações, bem como o monitoramento das ações presentes em tais documentos, devem ser enfatizados. Tal recomendação encontra respaldo na literatura, visto que já existem diversos estudos indicando que um ambiente de mais transparência e de maior liberdade facilita a identificação de práticas organizacionais antiéticas”.

Prioridades

A ascensão vertiginosa dos desligamentos motivados por questões éticas evidencia uma mudança de paradigma nas prioridades corporativas. A integridade ética não tem sido apenas uma vantagem competitiva, mas sim um pré-requisito essencial para a sustentabilidade e a reputação a longo prazo.

Para Cássio Mattos, sócio proprietário da RH Mattos, o comportamento ético no ambiente corporativo tem pesado mais que a competência e experiência dos profissionais, como exemplo, na hora de uma demissão.

“Uma demissão raramente ocorre de uma hora para outra, ela vem sendo construída: nunca é por um ato, fato isolado ou pontual. Prefiro olhar para a realidade de que 90% das pessoas são desligadas pelo comportamento e não pelo conhecimento, enquanto 90% são contratadas pelo que conhecem e não em como se comportam”.

Exemplo

Líderes éticos inspiram confiança e lealdade, promovendo uma cultura organizacional que preza pela integridade e pelo respeito mútuo. Colaboradores que se sentem valorizados e adotam a ética em suas práticas diárias contribuem para um ambiente produtivo e inovador.

A ética quando incorporada à cultura organizacional serve como alicerce para relações interpessoais saudáveis e para a tomada de decisões que consideram não apenas o lucro imediato, mas também o impacto social e ambiental. Cássio Mattos destaca que empresas que priorizam a ética não apenas alcançam um ambiente de trabalho mais harmonioso, mas também constroem uma reputação sólida, o que se traduz em maior confiança por parte dos clientes e investidores.

“Em pleno momento em que tanto se fala de governança nas empresas, dentro do conceito de governança, o que está em evidência é o ESG. Temos benefícios sociais com a melhora da relação entre as pessoas e da reputação das empresas, e além disso com a prática da responsabilidade social corporativa tudo isso apresenta um desempenho financeiro melhor”, diz Mattos.

Em um mundo empresarial cada vez mais interconectado e transparente, a ética não pode ser encarada como uma opção. As empresas que buscam não apenas prosperar, mas também sobreviver e deixar um legado duradouro, priorizam e cultivam uma cultura ética sólida.

Pedro Piccoli ressalta que a falta de ética também deteriora o ambiente interno e pode levar a um aumento da insatisfação dos empregados, prejudicando o desempenho organizacional. Ele afirma, ainda, que está bastante consolidada na literatura financeira a relação entre satisfação do empregado e desempenho financeiro.

“Em um primeiro momento, a má conduta empresarial pode levar a uma retração dos resultados organizacionais. Se não corrigida, tal prática pode acarretar severos danos de imagem que comumente prejudicam o desempenho financeiro por um longo período”, finaliza.