A queda nos preços provocou um fenômeno pouco comum no Brasil: a deflação. Medida agradou brasileiros, mas se prolongada, poderá trazer prejuízos ao país
Após dois anos de pandemia, o Brasil começa a experimentar uma possível recuperação econômica. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do país registrou quedas repetidas nos últimos meses. Em julho, foi de 0,68%; em agosto, a baixa foi de 0,36%.
O fenômeno, considerado por muitos como deflação, continuou em setembro e outubro. E de acordo com as projeções do Boletim Focus do Banco Central, a previsão do mercado financeiro é de que o IPCA feche 2023 em 5,01%; e, em 2024 e 2025, com 3,5 % e 3%, respectivamente.
Apesar do saldo favorável ao bolso do consumidor, especialistas veem com cautela o aquecimento da economia brasileira no pós-pandemia. Segundo o economista e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Douglas Alencar, o que o Brasil vive é o que chamou de desinflação de parte dos produtos que compõem a economia nacional.
“O que estamos observando não pode ser considerada uma deflação (queda generalizada de preços). Apesar de podermos perceber uma diminuição nos preços derivados do petróleo e da energia, outros produtos continuam aumentando”, contestou.
A economista e mestra em História Econômica Carla Beni, professora da FGV Management, compartilha da mesma opinião. Ela explica que para configurar um processo deflacionário, a queda dos preços dentro do IPCA precisaria ser constante e consecutiva por pelo menos um trimestre.
“Estamos diante de uma queda artificial de dois componentes de um índice, forçada por um breve período, fruto da redução tributária. Não há um processo deflacionário no Brasil hoje”, esclarece a economista.
Consumo
Ainda que a redução de preços seja temporária, a medida é bem vista pela população, pois em curto prazo aumenta o poder de compra dos trabalhadores. A satisfação será no entanto relativa, em razão da política de redução de preços da energia e do combustível terminar já em dezembro de 2022.
Se por um lado há queda de preços, por outro, o valor dos demais grupos do IPCA — tais como educação, comunicação, artigos de residência, saúde, vestuário, despesas com pessoas e alimentação — continua alto. Além disso, há o risco de endividamento acentuado das famílias, que pode contribuir para satisfação de curto prazo, mas acarretar graves problemas financeiros na sequência.
“A elevação dos preços de alimentos e bebidas tem um impacto negativo mais relevante, no orçamento familiar, que o impacto positivo da queda dos combustíveis. A queda do IPCA é pontual e não alivia o bolso dos mais pobres”, pontua a pesquisadora.
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Por Ana Graciele Gonçalves – Assessoria de Comunicação CFA