A participação popular na gestão pública é preponderante para o desenvolvimento social e a efetividade do exercício do poder. Sua ausência, no entanto, favorece o atraso
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Como explicou o filósofo francês Gilles Lipovetsky durante a palestra “Novos papéis nas relações da sociedade com o Estado”, ministrada por ele durante o Fogesp 2018, a população mudou, alcançando um novo patamar de individualismo. Para ele, a primeira revolução individualista – ocorrida entre os anos de 1700 e 1900 – cedeu lugar a uma segunda revolução – iniciada após 1960, com a construção do individualismo hipermoderno.
“Existe um desejo de expressão, de escuta e de reconhecimento pessoal que se tornou fundamental. Todas as organizações e instituições buscam traduzir isso. Portanto, é preciso ‘escutar’ esse fenômeno que trouxe mudanças. As pessoas não querem mais apenas conquistar direitos políticos, direitos de igualdade. Elas agora exigem o direito de serem escutadas, de serem reconhecidas; ou seja, é uma mudança profunda nas culturas contemporâneas”, aponta Lipovetsky.
De acordo com o filósofo, a mudança da sociedade foi motivada pela sua descrença nos grandes sistemas ideológicos que marcaram estruturalmente a modernidade política após o século VIII, tais como: revolução, república, comunismo, socialismo, fascismo, entre outros. “Não acreditamos mais nesses grandes sistemas e tampouco em nenhum grande ideal político que não consegue mais nos fazer sonhar, nos trazer esperança com relação a um futuro melhor”, pondera.
Aliado a isso, a sociedade deixou de pensar no futuro e voltou seu olhar para o presente, como um reflexo do capitalismo. Esse individualismo da sociedade favorece o desinteresse da população pela política, pelos governantes e pelo processo eleitoral como um todo. Com isso, as pessoas passam a votar apenas quando lhes convém.