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Solidão ou solitude? Termos trazem são sinais de alerta ou de significado

Fenômenos indicam momento de refletir sobre conexões humanas

Por Alexandra Fiori

O mundo moderno tem produzido estímulos digitais e trabalhos remotos que criam conexões cada vez mais distantes entre as pessoas, tanto na vida pessoal quanto profissional. Nesse contexto, dependendo de como as emoções são processadas, é possível traduzir tais sentimentos como solidão ou solitude: mas como identificar essas situações?

O isolamento social forçado enfrentado por boa parte do mundo durante a pandemia de Covid-19 alterou as interações humanas. A pesquisa mais recente sobre solidão, realizada pela Meta e o Instituto Gallup em 2023, mostra que pelo menos 24% da população mundial se declarou muito ou razoavelmente sozinha.

Atualmente, empresas que adotam o home office ou o trabalho híbrido se deparam com casos de transtornos emocionais entre seus funcionários. Medidas que funcionaram por algum tempo, por questão de segurança sanitária, podem não funcionar mais, apesar de serem econômicas e práticas.

O despreparo das empresas para essas situações ainda é um obstáculo no meio corporativo. O doutor em administração e professor da Universidade de São Paulo (USP), Joel Dutra, destaca que as empresas precisam organizar uma estratégia que monitore a saúde mental de seus funcionários.

“Dependendo do tipo da organização, é preciso ter mais cuidado. Se, por exemplo, você tem um trabalho totalmente a distância, então precisa de algum monitoramento dos funcionários”, alerta.

Alertas

Nem sempre os sinais são claros, tanto para quem sofre com solidão quanto para quem está próximo da pessoa. “É preciso trabalhar lideranças e desenvolver ações. Mas, infelizmente, a maior parte das empresas não tem essa preocupação e trata as doenças como algo decorrente do trabalho, sem nenhuma ação preventiva”, conclui Dutra.

Uma pesquisa da FIA Employee Experience (FEEx 2021), realizada com 150 mil trabalhadores, revelou que 32% dos entrevistados relataram estresse ou fadiga emocional. Um número alto, de acordo com o professor da USP. “Nós percebemos, por exemplo, que os solteiros sofreram mais do que os casados. Os casados sofreram mais do que os casados com filhos. Então, a pessoa sozinha, ou em um trabalho a distância, fica mais sujeita ao estresse ou à fadiga emocional”, explica.

Uma forma indicada pelo professor para acompanhar a equipe no trabalho a distância é o contato regular, com reuniões semanais, individuais ou em grupo, para falar sobre a vida e não sobre o trabalho. Isso porque algumas pessoas não têm consciência sobre o que estão passando. É o caso do publicitário Armando Andrade, que trabalhava em home office desde a pandemia.

“Eu comecei a me isolar de tudo, até de outras atividades que fazia: algo estava acontecendo comigo e não tinha motivação. Apesar do conforto do home office, eu pedi recentemente para voltar ao trabalho presencial e consegui reorganizar minha vida. Comecei a sair com colegas para almoçar e encontrar amigos depois do trabalho. Pelo menos comigo funcionou assim, e passei a me sentir bem melhor”, conta.

Solidão

O professor André Luiz Rabelo, do Departamento de Psicologia da UnB, ressalta que há mais propensão ao sentimento de solidão entre aqueles que vivem sozinhos. “Quando a pessoa percebe que ela não tem companhia para as coisas que gostaria de fazer, ou até evita situações onde poderia interagir com os outros, podemos dizer que ela enfrenta o que caracteriza a solidão”, explica o professor.

Algumas vezes é preciso buscar a psicoterapia, pois os sentimentos que surgem na solidão podem ser a ‘ponta do iceberg’ de outras questões, como transtorno depressivo. “Não vai ser muito efetivo dizer para a pessoa sair mais e interagir com os outros, porque ela vai estar numa propensão a ficar mais isolada”, acrescenta.

O professor sugere que no caso em que se trabalha remotamente, é preciso ficar atento aos sentimentos e buscar alternativas nas horas vagas. Se inscrever em atividades coletivas, esportivas ou artísticas seriam exemplos.

“Muitas pessoas formam amizades ou criam relacionamentos nesses contextos. Mas se a pessoa está com depressão, ela vai ter uma pouquíssima motivação para procurar contato social”, alerta.

Solitude

O teólogo alemão e filósofo da religião, Paul Tillich, trouxe uma nova concepção sobre estar só. Segundo ele, a solitude é um estado que “expressa a glória de estar sozinho”, pois trata-se de um isolamento voluntário.

Seria o outro lado da solidão. Em suas teorias, Tillich considerava que apenas quando estamos só conseguimos entrar em contato com nosso mundo interno e observar nossos pensamentos e emoções.

A solitude serve apenas às pessoas que têm a escolha de ficarem sozinhas e que, por isso, têm controle sobre seu isolamento. Elas buscam um momento de reflexão para se concentrar em algum projeto ou simplesmente para o autoconhecimento.

“É uma situação que vai ser mais positiva para a pessoa que optou por se afastar e buscar uma experiência saudável. Serve para se conhecer melhor ou até pensar melhor nos problemas que está vivenciando e na resolução deles”, esclarece o professor da UnB.

A solitude pode se transformar em uma ferramenta de inteligência emocional, desde que o tempo sozinho seja utilizado para uma reconexão pessoal; e não para navegar em redes sociais ou maratonar séries. O mundo moderno das relações pessoais transformou a maneira de processar emoções e identificar, em si próprio, quando é preciso buscar ajuda ou é necessário apenas um tempo para o autoconhecimento.