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Você está pronto para o “Grande Reset”?

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 Movimento promete sacudir o mundo e ser solução para os principais problemas ambientais e sociais do século 21

Rodrigo Miranda

Você já ouviu falar no ‘grande reset’? O termo surgiu durante a pandemia de Covid-19 e foi proposto no Fórum Econômico Mundial (FEM), em Davos, pelo Príncipe Charles, da Inglaterra, e pelo criador do evento, o alemão Klaus Schawab.

A ideia consiste em aproveitar o momento da pandemia para repensar, redefinir e imaginar novas oportunidades, a fim de chegar a um futuro mais saudável e sustentável para o planeta. Na prática, propõe ações como criar impostos sobre riquezas, pôr fim aos subsídios para produção de combustíveis fósseis e visa criar indústrias mais sustentáveis.

A proposta abre um leque de possibilidades para diferentes setores, tais como tecnologia e segurança mundial (aperfeiçoamento e crescimento econômico). Seu principal objetivo é  melhorar as relações de trabalho e diminuir as desigualdades sociais em todo o mundo.

Para o administrador, professor e pesquisador da ‘Fundação Dom Cabral’, Douglas Wegner, o momento é ideal para pensar em novas perspectivas. O pesquisador defende que o “grande reset” precisa ser implementado de forma efetiva em todos os países: para tanto, é necessário entender que as mudanças não prejudicariam o empreendedor, apenas pregam um novo formato de negócio, mais sustentável. 

“O chamado do ‘Grande Reset’ às organizações e aos empreendedores não é para que eles deixem de visar lucro, mas sim incorporar outras preocupações ao seu negócio. Estimula as empresas a colaborar com stakeholders e comunidades locais, promove o desenvolvimento do negócio e a geração de impacto positivo e vai muito além de apenas redigir um relatório anual para cumprir exigências dos investidores”, diz Wegner. 

Reset 

O grande reset significa instituir um novo começo, quebrar paradigmas; mas zerar tudo e mudar o status quo (o estado das coisas) pode gerar medo e resistência. E poderia, ainda, levantar questionamentos sobre a validade e eficiência do que a sociedade conhece e vivencia. 

O doutor em economia e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ivando Faria, afirma que o termo correto não deveria ser ‘O Grande Reset’, mas sim ‘The Great Adjustment’ (O grande ajuste), pois assim haveria mais justiça com os feitos da humanidade realizados até hoje. Ele destaca alguns ajustes que já vêm sendo operacionalizados. 

Entre as mudanças, ele destaca: 1) Crédito Verde (recursos financeiros facilitados àqueles que respeitam as normas ambientais); 2) Mercado de Crédito de carbono (geração de renda para quem evita emissão de CO2 na atmosfera); e 3) Microcrédito (oportunidades para os mais vulneráveis financiar seus empreendimentos). Inclui, ainda, a 4) logística reversa (modalidade que reaproveita recursos e evita disseminação de poluentes) e 5) Fundos socialmente responsáveis (investimento que combina análises socioambientais, econômicas e de governança —com análise financeira tradicional que maximiza retorno aos investidores e para a sociedade). 

“Tenho a convicção de que a solução para os atuais problemas mundiais está em um ambiente mais propício à geração de riqueza e ao fomento da educação intensiva e de qualidade. Se as soluções para o social e ambiental promoverem obstáculos à geração de riqueza, creio que não sejam adequadas — podendo ter justamente o efeito contrário”, sentencia. 

 Impactos na Administração 

O cenário proposto pelos idealizadores do “grande reset” pode representar oportunidades aos profissionais de Administração. As práticas existentes em segmentos como Gestão de Pessoas, Marketing, Logística, entre outros, podem ajudar empresas a entenderem o atual momento e a tomarem novos rumos. 

As novas propostas podem ser utilizadas para melhorar a qualidade de vida e a produtividade dos colaboradores, do ponto de vista do setor de Recursos Humanos. Outro exemplo é que no Marketing, além de captar a eventual tendência, poderão ser criados produtos e serviços mais voltados às necessidades e à nova perspectiva do público-alvo — também resultará em maior percepção, conhecimento e aceitação das marcas. 

Douglas Wegner, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, garante que a profissão está diretamente conectada ao novo movimento socioeconômico. Para ele, as organizações e seus líderes precisam entender o atual contexto e contribuir para que a mudança aconteça de fato e, além disso, as cúpulas das empresas precisam conhecer e estudar a viabilidade e os benefícios para se anteciparem aos cenários que ocorrerão. 

“Uma empresa somente dará ênfase a processos de inovação mais sustentáveis, e colaborativos, se os seus líderes estiverem convencidos de que essa é a melhor maneira de gerenciá-la. O mundo da administração precisa incorporar esses pensamentos de forma estratégica: ter suas reflexões e constatações e depois promover mudanças na cultura das organizações”, ponderou. 

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Teoria da Conspiração? 

Desde a divulgação do “grande reset” apareceram inúmeras críticas, de diferentes setores da sociedade. Alguns, mais conservadores, até afirmaram que o Fórum Econômico Mundial quis impor medidas e políticas ambientais que trariam prejuízos à economia dos países. 

Desde então, discussões sobre o tema inundaram as redes sociais, e foi aí que surgiram as teorias de conspiração relacionadas ao assunto. Uma das mais populares é a de que o coronavírus teria sido planejado e conduzido pela elite mundial e afirma que ela trabalhou para impor restrições de circulação para causar um colapso econômico. 

Ivando Faria apela ao bom senso das pessoas em relação ao assunto e rechaça teorias da conspiração. Para ele, o movimento é positivo e pode evitar problemas ambientais e sociais no futuro. 

“O tema é completamente positivo, pois como é possível ajustar os sistemas de produção, de modo a se tornarem mais amigos das pessoas e do ambiente? Só não acredito em reset, pois seria negar uma infinidade de aspectos positivos criados pela humanidade até hoje”, contesta. 

Já Douglas Wegner aposta que a ideia não vai cair no esquecimento mesmo diante das correntes mais céticas. Ele afirma que as empresas já estão se esforçando para produzir, vender e influenciar o mercado de forma mais sustentável e positiva. 

“Como investidor, atento ao movimento de empreendimentos de base tecnológica, tenho me surpreendido com a quantidade de novas ideias e de empreendedores que criam negócios disruptivos e alinhados com a pauta ESG. Prova disso é que grandes empresas passaram a criar suas próprias incubadoras e aceleradoras de negócios para se aproximar daqueles empreendedores que já estão com o mindset alinhado ao que ‘o grande reset’ propõe”, conclui.