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Eis aí um vírus que ataca todas as organizações. Pode destruir ou desestruturar as pessoas que as compõem. Como não há organizações sem pessoas, pode assim também esfacelar as organizações.
Competitividade, rentabilidade em curto prazo, avaliações individuais cumprimento de metas de desempenho, diminuição de postos de trabalho, cobranças crescentes por resultados.
Problema reincidente em todo o mundo, os suicídios no trabalho apenas ganham uma projeção maior em organizações francesas como a France Telecom, a Renault e a Thales. Mas esses episódios são apenas uma parcela pequena explícita do problema, a parte do iceberg fora d’água que esconde uma questão bem mais complexa, profunda e sua generalidade. Nem todos morrem, mas são indistintamente atingidos. Subsistem as sequelas, as síndromes de pânico, os dramas psicossociológicos, a morte psicológica, a fratura da alma humana.
Nenhuma outra doença do trabalho tem sido por tão longo tempo tão ignorada e tão pouco examinada. Muitos se comportam como se ela simplesmente não existisse. Textos de Administração e de gestão de negócios sequer tomam dela qualquer conhecimento, desconhecem-na por completo. Muito menos examinam os compêndios especializados, congressos, simpósios de relações do trabalho, recursos humanos, de psiquiatria e de medicina do trabalho.
Essa é uma epidemia que espantosamente se apresenta para todos como uma consequência natural, absolutamente normal nos termos da ideologia de mercado reinante no universo da sociedade e no mundo das organizações. Parece que querem nos impor o senso comum de que apenas se trata de perdas não desejadas, simples efeitos colaterais naturais do processo vigente na realidade da sociedade em que vivemos.
O silêncio cúmplice dos centros universitários de ensino e pesquisa em relação à questão compromete a sua imagem de isenção e de responsabilidade.
Essa epidemia tão contagiosa propaga-se insidiosamente por meio de um vírus que afeta o ser humano em sua essência. Para se contrapor aos seus efeitos, ou mesmo para apenas conversar sobre ela, impõe-se fazê-lo com muita prudência.
Vista como uma peste maldita, essa praga da epidemia do trabalho se acompanha de uma negação coletiva indiscriminada. Aqueles que a denunciam precisam se manter serenos e em defesa, para não serem considerados delirantes ou fantasistas. Eis aí um tema politicamente incorreto, percebido como inconveniente e inadequado ao mundo do trabalho.
Adm. Wagner Siqueira Presidente do Conselho Federal de Administração (CFA)
CRA-RJ nº 01-02903-7
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