Aumentar a produtividade, reduzir custos e otimizar resultados financeiros são mais fáceis quando feitos por um profissional
Em tempos de crise, o agronegócio é um dos poucos setores que não tem experimentado efeitos tão graves. Em 2017, as exportações foram de US$ 96 bilhões, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Agricultura. Segundo Marcos Fava Neves, especialista em planejamento estratégico do agronegócio, retirando-se as importações de US$ 14,1 bilhões, o setor deixou um superávit 14,8% maior: US$ 81,8 bilhões.
“As exportações representaram 44,1% do total registrado pelo país em 2017. Estamos falando de um setor que exporta quase metade do que produz. Sem o agronegócio, teríamos um déficit de US$ 15 bilhões na balança comercial”, calcula Neves.
De acordo com o estudo “Outlook Fiesp – Projeções para o Agronegócio Brasileiro 2027”, em 10 anos a área plantada de soja vai aumentar 17%, a produtividade deve crescer 8% e a produção nacional crescerá até 27%. Com isso, as exportações de soja chegarão a algo próximo de 90 milhões de toneladas – 43% a mais do que atualmente.
“Todo este cenário é bastante promissor. Somos produtores de comida e o mundo segue crescendo e precisando deste produto. Mas para esta máquina avançar mais fortemente na geração de renda, o foco do setor privado é adotar os pacotes tecnológicos e melhorar sempre a gestão”, avalia Neves.
Para ele, processos de gestão aliados a políticas públicas que permitam reduzir custos totais da produção, ligados à infraestrutura, previdência e cargas fiscais e tributárias, o setor tem tudo para atingir os patamares projetados no estudo.
O engenheiro civil Luiz Fava Junior, diretor-geral da Fava Sementes, fundou seu negócio ainda na década de 1980, em sociedade com o irmão. Nestes quase 30 anos ele ficou à frente da parte operacional, enquanto seu irmão ficou a cargo da gestão. No entanto, a sociedade terminou em 2011 e a empresa precisou buscar ajuda profissional para melhorar os processos e avançar nos negócios. “Busquei um administrador profissional que tivesse espírito empreendedor. Só temos tido bons resultados desde então”, avalia o empresário.
A empresa, que produz algodão, soja, feijão, milho e café, tem filial em Minas Gerais e na Bahia. Com a chegada do administrador, uma das primeiras medidas foi romper com a forma antiga de se fazer negócios. “O gestor nos fez enxergar que mantínhamos compromissos com pessoas que já não tinham o mesmo desempenho, com prestadores de serviços que não nos eram tão vantajosos. Mantínhamos essas relações em função de amizade, anos de convivência. Mas o gestor nos ajudou a separar a amizade dos negócios, não misturar as relações. E já estamos enxergando resultados”, conta Luiz.
Para otimizar o rendimento das unidades, foram criados indicadores para avaliar o desempenho, gerando uma espécie de competição entre elas. Com isso, aquelas que apresentam melhores números de consumo de combustível por hectare e quantidade de mão de obra empregada saem na frente.
Outra mudança foi descentralizar a gestão de pessoal. Agora, cada gerente de cuida dos funcionários subordinados àquela unidade. “Deixamos os gerentes de unidades mais próximos das pessoas. Colocamos em prática uma estrutura mais horizontal e parece que os problemas com pessoal desapareceram do dia para a noite”, comemora Fava.
Com a gestão profissional, o próximo passo da empresa é estabelecer controles fiscais e gerenciais de forma que a Fava Sementes possa ser auditada. O objetivo é instituir mecanismos de governança corporativa transparentes, facilitando o gerenciamento e permitindo que a Fava inicie um trabalho de preparação de seus sucessores. “Tenho três filhos, ainda não pretendo me aposentar, mas quero conduzir meu processo de sucessão. Por isso, estamos desenhando regras para os sócios, tentando dar uma cara mais profissional a um negócio familiar. Assim, posso garantir que não deixarei problemas como herança para ninguém”, afirma.
A falta de gestão profissional nos negócios rurais é a responsável direta pela perda de recursos. De acordo com a professora Chaiane Leal Agnes, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, o problema que mais se repete nos empreendimentos agrícolas é o alto investimento de recursos financeiros em atividades que não promovem o retorno esperado. “Esse é um dos problemas que os alunos evidenciam durante a realização dos estágios no curso de Administração. Em geral, constatamos que os agricultores, além de não conhecerem o custo exato dos seus produtos, são altamente dependentes das indústrias para comercializar os mesmos, especialmente na realidade dos grãos, como o arroz e a soja, principais commodities da região”, afirma.
A consequência disso, segundo Chaiane, é que muitos produtores não fazem ideia de quanto estão lucrando – ou deixando de lucrar – em suas atividades, sem esquecer das oportunidades de negociação mais vantajosas que acabam perdendo por não dominarem as técnicas de gestão.
“Os investimentos sem análise e planejamento financeiro também explicam a descapitalização de muitos empreendimentos, endividamento de muitos agricultores familiares e diminuição das expectativas das futuras gerações em dar continuidade aos negócios dos seus pais”, explica a professora.
A grande vantagem dos negócios rurais geridos por profissionais é a capacidade de antever os problemas. Conhecendo a empresa de forma holística, os gestores podem identificar o ambiente e projetar estratégias específicas para diferentes cenários, minimizando os ricos dentro do negócio.
Para isso, o profissional que quiser se dedicar a esse nicho de mercado precisa ter uma formação multidisciplinar que garanta uma visão ampliada dos negócios. De acordo com Chaiane, a maioria dos cursos de Administração no Brasil não possui disciplinas que aprofundam os conhecimentos dos graduandos na área rural e agroindustrial, condição que faz com que os profissionais busquem tal aprofundamento em cursos de pós-graduação.