Conceito apareceu no exterior e preocupa população, sobretudo, em tempos de fake news
Por Rodrigo Miranda
O termo “tecnopessimismo” tem ganhado destaque nos meios de comunicação nos últimos tempos depois que grandes empresários do ramo da tecnologia manifestaram ser contra o desenvolvimento de futuras inovações. Um dos exemplos veio do multimilionário Elon Musk em relação às Inteligências Artificiais quando se pronunciou sobre os perigos da tecnologia para o futuro da humanidade.
Ele defende que a Inteligência Artificial precisa ser regulamentada de forma adequada. A ideia é que assim a IA deixe de ser uma ameaça existencial na visão do empresário.
Para Marcelo Minutti, professor de Inovação e Transformação Tecnológica no Ibmec, o discurso tecnopessimista de empresários renomados é uma combinação de preocupações éticas e estratégicas. Enquanto expressam cautela sobre as implicações da Inteligência Artificial, também tomam medidas proativas no mundo dos negócios.
“A Microsoft, empresa fundada por Bill Gates, adquiriu uma participação significativa na OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT. Essas ações podem refletir um desejo de liderar a inovação em IA tanto por oportunidades comerciais quanto para influenciar sua direção ética. Em resumo, esses líderes parecem buscar um equilíbrio entre proteger seus negócios e abordar dilemas éticos, e podemos apenas especular sobre suas motivações exatas”, diz Minutti.
Tempos e termos
Embora o termo possa parecer novo, o medo de inovações é algo antigo na história da humanidade. Uma das histórias mais antigas e famosas é a revolta dos Luditas na Inglaterra, no qual tecnopessimistas, vestidos com roupas femininas, invadiram e destruíram maquinário moderno criado por Cartwright para as indústrias têxteis, sob o pretexto de que elas eram invenções do diabo, responsáveis pelo desemprego no nordeste da Inglaterra.
Para Heitor Quintella, professor na Universidade Federal Fluminense (UFF) e ex- diretor de empresas na área de informática e consultor executivo da IBM, o fenômeno se repete a cada inovação tecnológica, porém a geração de pânico sem sentido na verdade mascara interesses escusos.
“São alguns exemplos dessa patologia os movimentos pontuais e datados contra televisão, celulares, insumos agrícolas e redes sociais, além daqueles contra produtos alimentícios, farmacêuticos e corrida espacial. Poucos empresários participam dessa paranoia criada, na verdade, por grupos políticos e globalistas na atualidade e que visam o controle de regiões de interesse estratégico mundial”.
Estratégia
A dúvida e o ceticismo de gigantes da tecnologia também podem ser analisados como parte de uma estratégia de sobrevivência no mercado capitalista. Ao antecipar possíveis problemas e desafios éticos, os executivos estão se preparando para se adaptar às mudanças do cenário regulatório e às demandas dos consumidores cada vez mais conscientes.
É natural, pois, que grandes empresas busquem maneiras de se manter à frente e proteger seus interesses. O tecnopessimismo se torna uma estratégia possível, já que as empresas podem influenciar a opinião pública, moldar a regulamentação e, em última análise, impedir que concorrentes desenvolvam tecnologias semelhantes.
Para Minutti, o pessimismo excessivo em relação às novas tecnologias pode inibir o progresso, deixando oportunidades inexploradas por medo das possíveis consequências. Diante do interesse próprio e controle de mercado, a população pode ser de fato prejudicada.
“Negócios que são céticos em relação à adoção de novas tecnologias podem se encontrar desfavorecidos ou obsoletos quando essas tecnologias ganham adoção em massa. Por outro lado, um boicote ou rejeição completa de novas tecnologias pode limitar o potencial de inovação, privando a sociedade dos benefícios que essas inovações poderiam trazer”, analisa.
O tecnopessimismo pode servir, ainda, como um lembrete de que, embora a tecnologia tenha o potencial de transformar o mundo para melhor, é importante avaliar implicações e tomar decisões responsáveis para um futuro mais sustentável e ético. Porém, o futuro da tecnologia é moldado também por aqueles que questionam e desafiam possibilidades.
Segundo Quintella, a diante do pessimismo tecnológico há justamente quem aposte e invista no novo. Por isso, as inovações e transformações sobressaem e acabam superando quem escolheu ficar preso a ideias superadas.
“Da mesma forma que pode ocorrer em alguns setores retrógrados com a patologia do tecnopessimismo, sempre haverá o contraponto de setores saudáveis que transbordam o tecno-otimismo para a sociedade. É preciso, portanto, aceitar o inevitável fim de eras de envelopes tecnológicos superados e saudar os novos tempos de outros envelopes tecnológicos com esperança e alegria”, finaliza Quintella.