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Avanço da tecnologia tem mudado a profissão, o mercado de trabalho e o perfil dos profissionais

Por Ana Graciele Gonçalves

O avanço da Inteligência Artificial (IA) tem causado impacto significativo em diferentes áreas da sociedade, incluindo a administração. Estima-se que, no futuro, ela continuará a desempenhar um papel cada vez mais importante, trazendo oportunidades e desafios para os profissionais do segmento.

O aumento da produtividade e a ampliação da distribuição de serviços e produtos são exemplos de ganhos positivos que a IA trouxe para o mercado profissional. Contudo, ela também motivou questionamentos.

Recentemente, um grupo com mais de 2.600 líderes e pesquisadores da área de tecnologia, entre eles o bilionário Elon Musk, assinou uma carta aberta pleiteando uma pausa temporária no avanço do desenvolvimento da inteligência artificial. Eles expressam preocupação com o que acreditam ser “riscos significativos para a sociedade e para a humanidade” associados a essa tecnologia.

Mas será que é possível desacelerar o avanço da IA? O mestre e doutor em administração e professor da ‘Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA/USP)’, Cesar de Souza, acredita que não.

O docente não vê sentido em pausar o desenvolvimento da tecnologia. Segundo ele, ainda que fosse possível, tal atitude não seria benéfica. “As novas tecnologias, especialmente as da IA, têm a possibilidade real de serem ferramentas que nos auxiliarão a resolver os grandes problemas da atualidade”, justifica Souza.

Por outro lado, há especialistas que corroboram com a atitude de Elon Musk, é o caso do pós-doutorando em Inteligência Artificial da FEA/USP e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Luís Guedes. Ele defende, porém, um meio termo por entender que a tentativa de paralisar a IA não terá sucesso.

“É importante que seja estabelecida uma regulamentação mínima sobre a responsabilização de quem desenvolve artefatos de inteligência artificial, devido ao resultado potencial que tal tecnologia pode produzir. No entanto, apesar de concordar com a tese de que um freio de arrumação seria bem-vindo, essa iniciativa é inócua, por ser impraticável”, afirmaGuedes.

Administração 4.0

Para o professor da USP, César de Souza, sem a possibilidade de pausar o avanço da IA, os profissionais de administração vão precisar se adaptar, adquirir novas habilidades e maneiras de trabalhar em conjunto com tais ferramentas. Segundo ele, a administração e o mundo dos negócios já estão sob processo de mudança e transformação, trazidos pelas tecnologias digitais há mais de duas décadas — a diferença é que agora a mudança é mais disruptiva e significativa, sobretudo, no processo intelectual de produção de trabalho.

“Podemos dizer que esse processo se iniciou há mais de 70 anos, quando os primeiros computadores eletrônicos de uso geral começaram a ser utilizados nas empresas, automatizando extensos e custosos processos manuais de cálculos. Agora esse processo será mais acentuado, mas não há motivos para pânico, desde que se faça a lição de casa: atualização profissional e adaptação”, diz Souza.

Novas competências

Apesar de o mercado de trabalho já sentir os impactos positivos e negativos da tecnologia, sobretudo, da inteligência artificial, poucas são as instituições de ensino superior (IES) que oferecem um ensino alinhado com tais questões. “A forma como se ensina nas faculdades de administração, em geral, é fundamentalmente a mesma há muitas décadas, mas isso precisa mudar, precisa evoluir”, critica o professor da FIA, César Guedes.

Na USP, a grade curricular do curso de administração está sendo reformulada. O objetivo é incorporar o uso e promover discussão sobre as novas ferramentas tecnológicas, bem como criar disciplinas específicas sobre a aplicação da IA nos processos de gestão.

“Também está sendo fomentado junto aos professores que procurem conhecer e aplicar as ferramentas em suas aulas. É preciso discutir, também, os impactos e aspectos negativos da tecnologia e como aplicá-la de maneira ética: isso é parte importante em nossas disciplinas que discutem ética e responsabilidade nos negócios”, destaca Souza.

O professor de administração da FEA/USP também ressalta que, além da necessidade de buscar novos conhecimentos técnicos, sejam desenvolvidas novas Soft Skills. Embora não seja possível pausar o avanço da IA, os especialistas defendem que a intuição e a humanidade nos negócios ainda são aspectos fundamentais para a geração continuada de valor.

“A conexão emocional, com aquilo que se faz, e a sensibilidade de mercado são ativos escassos. Por isso mesmo, são fatores muito valiosos, sobretudo, em tempos de inteligência artificial”, finaliza.