Saiba para que serve e quais são as facilidades e armadilhas que envolvem o uso de cartão de crédito
Por Rodrigo Miranda
O uso dos cartões de crédito no Brasil tem disparado e se tornou cada vez mais comum encontrar pessoas que possuem mais de uma opção na carteira. Essa realidade ficou evidenciada com um relatório divulgado pelo Banco Central que apontou que o Brasil conta com mais de 212 milhões de cartões de crédito ativos.
O número é maior que a população do país, que é estimada atualmente em 203 milhões de pessoas. O que também liga um sinal de alerta quanto à questão dos brasileiros com o endividamento, pois o uso indiscriminado do crédito — aliado aos altos juros cobrados no Brasil — pode transformar compras triviais em dívidas impagáveis.
A pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio, confirma essa preocupação, ao apontar que 76,6% das famílias brasileiras estão endividadas. Para muitos, o cartão de crédito é visto como uma extensão da renda, quando na verdade é uma forma de empréstimo.
A disparidade entre o número de cartões de crédito e a população pode sugerir uma dependência crescente dessa forma de pagamento. Isso não seria um problema se a educação financeira fosse amplamente disseminada e praticada.
O consultor de gestão do Instituto Publix e professor do Ibmec Brasília Raphael Salviano ressalta que o fato de haver mais cartões de crédito do que pessoas no Brasil, por si só, não deveria ser um problema, afinal os cartões são um meio de pagamento que oferecem benefícios aos seus portadores, além de serem um produto bancário relevante para a receita das instituições financeiras. Contudo, quando colocado em perspectiva, se considerarmos o nível de educação financeira no Brasil, o cenário se torna preocupante.
“O Perfil de Crédito Brasileiro, divulgado pela Serasa em 2023, revelou que 52% da população brasileira possuem três ou mais cartões de crédito, e o motivo é a possibilidade de somar os limites dos cartões para regularizar as despesas. Outra pesquisa, desta vez do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), sobre o hábito de consumo dos usuários de cartões de crédito, revelou que um terço não tem conhecimento do limite do cartão e mais de 90% não sabem quais são as taxas de juros cobradas pela administradora e esse é um problema estrutural, já que os dados demonstram que a maior parte dos inadimplentes é de classes sociais menos favorecidas e com menor nível de escolaridade”, diz Salviano.
Vantagens
Para William Baghdassarian, economista e professor de finanças do Ibmec Brasília, o segredo da boa gestão é ter educação financeira. Ele afirma que se a pessoa for disciplinada ter um cartão único é a melhor solução, o consumidor acaba concentrando sua despesa num lugar só e você passa a ter controle, mesmo que involuntário, das suas despesas; por outro lado, se a pessoa tem conhecimento em explorar os benefícios pode ser interessante ter mais opções.
“Na verdade, o número de cartões de crédito mostra que a gente tem uma relativa facilidade para ter acesso a essa modalidade de crédito, que é o cartão de crédito, o que de certa forma é bom. O crédito para a economia normalmente acelera a atividade econômica, ele permite que as pessoas possam consumir em um momento em que ela não poderia por não ter acumulado a renda ainda, que ela difira (prorrogue) isso ao longo do tempo; tem uma série de vantagens”, diz Baghdassarian.
Os cartões de crédito realmente oferecem vantagens significativas quando usados de forma consciente. Programas de milhagem, descontos em eventos culturais, cinema, teatro, e até serviços exclusivos como concierge e acesso a salas vips em aeroportos são alguns dos benefícios que podem ser aproveitados.
Os programas de fidelidade, por exemplo, permitem acumular pontos que podem ser trocados por passagens aéreas, produtos ou serviços. Esses benefícios podem representar uma economia considerável, especialmente para aqueles que viajam com frequência ou fazem muitas compras online.
Alguns cartões ainda oferecem seguros de viagem, proteção de compras e até assistências emergenciais. Tudo isso pode trazer uma camada extra de segurança e conveniência para os usuários.
“Existem bons programas de benefícios oferecidos por diferentes cartões de créditos e instituições financeiras, mas é preciso avaliar a realidade e a necessidade individual de cada usuário para definir com segurança se é vantajoso ou não. Hoje em dia, há muito conteúdo disponível na internet sobre os produtos bancários, os programas de benefícios existentes e como avaliá-los e cabe ao usuário buscar se informar antes de contratar o produto” conclui Salviano.
Alerta
A instabilidade econômica e social que o país enfrenta também pode ser um sinal de alerta. Se a pessoa tem o hábito de se endividar, de estar sempre pendurada em cartão de crédito, em cheque especial, é preciso se atentar a questões como desemprego, situação de baixo crescimento, uma queda da renda real.
William Baghdassarian destaca que o endividamento deve ser controlado para não se tornar inadimplência, que é mais grave. Ele recomenda alguns passos para aumentar a renda e controlar os gastos.
“O importante é tentar ter um padrão de vida compatível com o que você ganha; na medida do possível expandindo a sua renda, seja por meio de poupança, recebendo juros, seja por meio de atividades que você possa fazer e que aumentem a sua renda; porém o mais importante é o que a sua renda tem que ser. Ou seja, ser compatível à sua despesa e com a renda. Todo mundo que tenta gastar mais do que ganha, acaba tendo um problema”, finaliza.
Dicas: Saia do sufoco Algumas práticas consideradas essenciais podem ajudar os consumidores a não cair em armadilhas. A educação financeira pode começar com o simples fato de realizar orçamentos mensais detalhados, listando rendas e despesas, para conhecer melhor a própria renda. Evite parcelamentos longos: embora a tentação de dividir uma compra em várias parcelas seja grande, isso pode levar ao acúmulo de dívidas. Pague a fatura integralmente: sempre que possível, pague a fatura do cartão de crédito integralmente. Os juros do crédito rotativo são altos e podem gerar uma bola de neve em termos de dívidas. Tenha um fundo de emergência: Reserve uma parte da sua renda para emergências. Isso evita que você recorra ao cartão de crédito em situações imprevistas. |