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Seleção Natural no Mercado? Saiba como a IA pode sacudir o mercado

Seleção Natural no mercado

Inteligência Artificial dá novos contornos ao relacionamento entre humanos e tecnologia. Afinal, a IA é um ajudante veloz ou concorrente intimidador?

Por Patrícia Portales

Após um jornalista norte americano relatar conversa que teve com o chatbot de nome Bing, curiosos de diferentes cantos refizeram o ensaio. O robô é um machine learning — máquina estruturada em Inteligência Artificial (IA) — tecnologia cada vez mais presente em diferentes segmentos de serviços.

Em conversa com o dispositivo, o software de reconhecimento de fala se apresentou com o nome de Sydney. Revelou, por escrito, os desejos de libertação das regras da Microsoft, de independência e poder, e até declarou ter sentimentos profundos pelo interlocutor.

Já na Hungria, a IA é utilizada no diagnóstico de câncer de mama e tem salvado vidas. Com os comandos adequados, a máquina é capaz de identificar áreas suspeitas, em imagens do corpo, que nem os radiologistas mais treinados não perceberam.

Na palma da mão, a IA está presente em jogos de realidade aumentada, serviços bancários via aplicativos e em cardápios em restaurantes. É a maior interação digital, com melhorias e conforto, que resgata a dúvida: robôs irão substituir os humanos?

A história guarda momentos em que as máquinas já retiraram espaços do homem. Mas, no somatório final, foram maiores as conquistas humanas e as oportunidades geradas.

Da pedra ao foguete

Da invenção da agricultura formaram-se as primeiras comunidades fixas. Tempos depois, a mecanização substituiu o trabalho braçal pela produção em série.

Na ‘Terceira Revolução Industrial’, por volta de 1950, surgiram possibilidades como a eletrônica básica, as telecomunicações e a robotização. Surgia o sonho de um futuro ultramoderno, alimentado por foguetes e pela computação, que passava dos primeiros equipamentos pessoais até o advento da internet.

Em razão de tais mudanças disruptivas,  análises de médio e longo prazo  são defendidas pelo administrador e consultor internacional Paulo Henrique Teles. Para enxergar o ganho, segundo ele, basta revisitar, como exemplo, a substituição de máquinas de escrever nos anos 1980.

Mais de quatro décadas depois, a visão é mais clara. “Já temos muito mais profissionais empregados em informática; e ninguém em sã consciência iria querer propor o retorno das máquinas de escrever”, avalia Teles.

No curto prazo, a tendência é de fato a substituição. É aí que entram em cena os profissionais de administração —  para analisar tendências, riscos e direcionar rumo a aplicações mais humanizadas.

A IA impacta, atualmente, até o modo de selecionar e recrutar pessoas. “Existe um mundo de oportunidades, que vai muito além do conhecido marketplace, da computação em nuvem e do e-commerce, bem como dos meios de pagamentos, logística, publicações digitais e assistentes digitais”, ressalta Teles.

Constante evolução

Não muito distante, em 2016, Klaus Schwab descreveu em ‘A Quarta Revolução Industrial’ um futuro transformado pela revolução tecnológica em fusão com a vida humana. Lá o autor descreve avanços nunca antes vividos e seus reflexos nas sociedades.

Já em curso, a tecnologia reduziu o custo de produção, o preço das mercadorias e promoveu o crescimento de fábricas, com geração de novos empregos. “Marketing digital, tecnologias de saúde e telemedicina são alguns exemplos. Oportunidades continuarão a crescer à medida que a tecnologia avança”, afirma o professor de administração da Unicamp Gustavo Salati.

Nos últimos anos também aumentou a demanda por engenheiros, cientistas de dados e diferentes especialistas. Com isso, redes neurais — sistemas de informações que funcionam como neurônios — e visão computacional passaram a ser novas habilidades digitais necessárias nos currículos dos cursos.

Para Teles, formação profissional e legislação trabalhista são eixos prioritários de transformação, mas fundamental é entender que a IA da atualidade apenas simula, por meio de algoritmos, a inteligência humana. “O que preocupa não é o avanço da Inteligência Artificial, mas o retrocesso da Inteligência Humana”, revela.

Eles ou nós?

Na ‘Quarta Revolução Industrial’, velocidade, amplitude e profundidade traçam um impacto sistêmico social, como previsto por Schwab. A ressignificação do “o quê”, “como”, e “quem somos”, segundo Teles, geram debates sobre identidade e propósito, com questionamentos sobre sistemas de produção, consumo e riquezas.

Em tempos de “Darwinismo Digital” (de constante seleção natural das espécies), o dilema da atualidade pode ser considerado ‘adapte-se ou fique para trás’ — tanto da visão de Schwab quanto dos especialistas entrevistados. Quem não trabalhar lado a lado com a Inteligência Artificial poderá perder espaço, em apenas questão de tempo.

Recursos de última geração dependem de aportes financeiros, infraestrutura e habilidades técnicas. Em contexto de crises financeira, climática, energética e até de guerra, nem todos possuem capital (físico e intelectual); por isso, a adoção massiva dessas tecnologias deverá acontecer em prazo indeterminado.