Profissional de destaque quando o assunto é gestão de pessoas e comportamento, Luciane Albuquerque fala sobre carreira, tendências e mercado
Por Leon Santos
Administradora com especialização em marketing e carreira majoritariamente galgada na área de gestão de pessoas, a paraibana Luciane Albuquerque Sá de Souza é mestra e doutora em Psicologia Social e pós-doutora em Ciências Comportamentais pela Universidade do Porto, em Portugal. É também consultora organizacional certificada pelo Disney Institute e colaboradora da Brazilliant Consultoria.
Na área de docência, Luciane é coordenadora nos cursos de negócios da faculdade Estácio, na Paraíba, e também nos cursos de mestrado e doutorado da Ivy Enber Christian University. Administradora engajada, ela é coordenadora da Comissão de Eventos do CRA-PB e membro da Comissão ADM Mulher em seu estado.
Profissional dedicada e sempre solícita, Luciane já foi entrevistada em edições passadas da RBA, com contribuições em assuntos diversos — dentro do campo de recursos humanos, gestão de pessoas e temas relacionados ao comportamento humano. Premiada, mais de uma vez, pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), tanto em seu estado quanto nacionalmente, e pelo instituto Significare e Sebrae, Luciane é membro e vice-presidente da Academia Paraibana de Ciência da Administração (APCA).
Conte-nos um pouco de sua trajetória pessoal e profissional, suas conquistas, e, sobretudo, o que a motivou a cursar administração e atuar na área de recursos humanos.
Iniciei minha trajetória considerando o curso de engenharia, mas logo percebi que não era a minha paixão. Após trancar o curso e explorar outras opções, eu encontrei a minha verdadeira vocação na administração. Porém, as disciplinas de Administração de Recursos Humanos e de Endomarketing foram verdadeiros divisores de águas, pois me mostraram a importância da valorização do colaborador no ambiente organizacional.
Durante a graduação em administração, minha inclinação para a área de gestão de pessoas cresceu, o que me levou a fazer um curso de aperfeiçoamento em Gestão de Pessoas e iniciar um MBA internacional em marketing. O ano de 2003 foi marcado por estudos, trabalho e flexibilidade, culminando em minha formatura como bacharel em administração com habilitação em marketing. Durante o MBA, eu tive a oportunidade de aprender com professores executivos de empresas em Portugal, o que despertou meu interesse em alinhar docência e vida executiva.
Posteriormente, eu cursei o mestrado em Psicologia Social, pela UFPB, onde estudei o comportamento das pessoas no ambiente organizacional, especificamente os caixas bancários da Caixa Econômica Federal. Posteriormente, já tendo iniciado a carreira como docente do ensino superior, decidi cursar o doutoramento em Psicologia Social, também na UFPB, cujo foco foram os cadetes policiais e bombeiros militares, explorando a saúde mental, a Teoria da Autoeficácia e a Síndrome de Burnout.
No ano de 2012, fui convidada a fazer parte da Brazilliant Consultoria como consultora organizacional (atualmente como sênior), realizando o sonho de alinhar atividades de docência e vida executiva. Minha participação nos cursos promovidos pelo Disney Institute, sobre ‘Qualidade na Prestação dos Serviços’ e ‘Seleção, Treinamento e Engajamento de Pessoal’, incorporaram saberes às minhas aulas, treinamentos e projetos aos clientes da consultoria.
Em março de 2013, concluí e defendi minha tese de doutorado, sendo aprovada com distinção, culminando em dois artigos publicados em periódicos de destaque e, como consequências destas publicações, recebi prêmios da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), como reconhecimento pela minha contribuição e excelência na área. Esses prêmios destacam a dedicação e impacto positivo no campo de recursos humanos: Prêmio Ser Humano Oswaldo Checchia – 1º Lugar Regional (ABRH-PB), em junho de 2015; Prêmio Ser Humano Oswaldo Checchia – 1º Lugar Nacional (ABRH – Brasil), em agosto de 2016.
Estamos vivendo um momento de disrupção no mercado de trabalho, tanto em termos de regime de trabalho, presencial ou a distância, quanto na inserção da inteligência artificial nos processos seletivos. O que um colaborador, em especial os profissionais de administração, deve fazer para se posicionar corretamente e, desse modo, se tornar relevante para o mercado?
De fato, estamos vivendo tempos de grande instabilidade e, até certo ponto, de vulnerabilidade do ponto de vista tanto humano quanto empresarial. No entanto, uma dica que eu sempre dou aos meus alunos, e aos meus clientes, é para que eles tentem aprimorar suas habilidades digitais, ou seja, que busquem meios de dominar as ferramentas digitais e compreender como a inteligência artificial poderá lhes ajudar a realizar determinadas tarefas.
É preciso, portanto, ter flexibilidade e adaptabilidade, estando aberto às mudanças e ter o desejo de aprender continuamente. Mas, mesmo neste cenário cibernético, ainda há a necessidade de se desenvolver a inteligência emocional, sabendo lidar bem com os diversos desafios e relacionamentos, alguns deles conflituosos.
Ademais, do ponto de vista profissional, é muito importante construir conexões, formar uma boa rede de relacionamento (networking), e uma dica é participar de eventos relevantes. Por fim, sempre buscar o conhecimento e a especialização, estando atento às oportunidades, sendo capaz de inovar, propondo soluções criativas e adaptáveis às necessidades do mercado.
A senhora é coordenadora tanto em curso de graduação quanto em cursos de mestrado e doutorado em administração. Como a senhora tem visto a relação entre o que é ensinado nas faculdades e a prática exigida pelo mercado? Existe um descompasso ou as faculdades, em geral, têm conseguido acompanhar aquilo que o mercado exige?
Considerando a minha experiência enquanto coordenadora de cursos de graduação e stricto sensu (mestrado e doutorado) em administração, percebo que, lamentavelmente, ainda há um descompasso entre o que é ensinado nas faculdades, no Brasil como um todo, e as demandas do mercado. Todavia, há um esforço por parte das instituições de ensino no sentido de buscar a atualização dos seus currículos.
A questão é que as mudanças no mundo corporativo muitas vezes superam essa adaptação. Nesse sentido, cabe às faculdades continuarem aprimorando seus programas, promovendo parcerias com as empresas e incentivando a participação de profissionais atuantes como docentes, garantindo um equilíbrio entre teorias e práticas. Desta forma, favorecemos um melhor alinhamento entre a formação acadêmica e as necessidades reais do mercado.
Como pesquisadora, a senhora estuda, entre outras áreas, a autoeficácia, o estresse e o burnout. Conte-nos como está esse cenário, sobretudo, agora que a maioria das empresas está convocando massivamente seus funcionários para o trabalho presencial. Regredimos nesse aspecto, qualidade de vida versus trabalho, ou o trabalho a distância foi um sonho e agora chegou a hora de acordar?
Como pesquisadora, percebo que o cenário atual é bastante complexo. A pandemia acelerou a adoção do trabalho na modalidade remota, fato este que proporcionou a flexibilidade, mas também trouxe vários desafios (pessoais e profissionais).
Passado esse período conturbado mundialmente, o retorno presencial às empresas acarretou uma tensão entre produtividade e bem-estar. Eu considero que, independente do tipo de trabalho, seja ele remoto, presencial ou híbrido, é crucial que o profissional encontre um equilíbrio, haja vista a sua saúde mental, a qualidade de vida e, claro, as necessidades organizacionais. Das três modalidades citadas acima, o trabalho híbrido pode ser uma possível solução, pois permite o melhor dos dois mundos (remoto e presencial).
Vivemos uma época em que os empregos estão escassos e o empreendedorismo pode ser uma solução para geração de renda. Quais tipos de soft skills um empreendedor deve ter, e como uma pessoa pode avaliar se ela tem perfil para empreender?
O empreendedorismo não é para todas as pessoas, pois trata-se de uma jornada desafiadora e algumas soft skills são essenciais para o sucesso nesse caminho. Algumas habilidades importantes para um empreendedor que busca se destacar no mercado e fazer a diferença são, por exemplo, a resiliência, pois é preciso ter a capacidade de lidar com fracassos, aprender com eles e continuar caminhando e seguindo em frente.
Ser criativo também é importante, pois o empreendedor precisa encontrar soluções inovadoras para os problemas que surgem e identificar as oportunidades do mercado. Outra habilidade imprescindível é a comunicação efetiva e assertiva para poder saber se expressar, ouvir e negociar com clientes, parceiros e colaboradores — sempre mantendo uma postura de adaptabilidade — sendo flexível diante das diversas mudanças do mercado e suas consequências; sem esquecer de construir uma rede de relacionamentos e conexões profissionais que garantam um networking estratégico.
Como por vezes o empreendedor é responsável por várias atividades relativas à sua empresa, ter uma boa gestão do tempo fará toda a diferença, pois é preciso priorizar tarefas e cumprir os prazos. E, por fim, mas não menos importante, é preciso ter autoconfiança, acreditando em si mesmo e em sua visão de futuro, sendo persistente ao invés de ser insistente.
Relativamente a como uma pessoa pode avaliar se tem perfil empreendedor, faz-se necessário, além de maturidade e sensatez, realizar uma reflexão sobre sua paixão por resolver problemas e criar algo. Além disso, fazer uma avaliação sobre sua disposição para assumir riscos, porém de forma calculada; e constantemente buscar feedback de pessoas próximas que possam lhe falar sobre suas habilidades e atitudes, principalmente diante de situações consideradas desafiadoras.
Estudo recente da consultoria PWC revelou que 39% das demissões de executivos de alto escalão aconteceram por motivos que envolvem a falta de ética. Houve um retrocesso no aspecto ético, no mercado de trabalho, ou o tema tem perdido a relevância de outrora?
Vivemos tempos de mudança acelerada e, como consequência, a integridade e a responsabilidade social têm tido cada vez mais destaque e ganhado importância nas empresas. Sendo assim, as organizações que passam a priorizar a ética constroem relações mais sólidas com seus clientes, seus colaboradores e, claro, com seus investidores, garantindo uma sustentabilidade a longo prazo. Nota-se, portanto, que a ética não é apenas vital, mas elemento relevante para o sucesso empresarial.