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Aumento de transtornos mentais preocupa trabalhadores e empregadores

Afastamentos chegam a níveis alarmantes e acendem luz amarela quanto à saúde mental e vida laboral.

Por Rodrigo Miranda 

No Brasil, os números referentes aos afastamentos por transtornos mentais e comportamentais revelam uma tendência preocupante. Dados do Ministério da Previdência Social de 2023 apontam que foram concedidos 288.865 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais. 

O cenário indica um aumento significativo de 38% em relação ao ano anterior, quando foram concedidos 209.124 benefícios. O crescimento exponencial traz à tona a urgência de se compreender os fatores por trás desse fenômeno e as medidas necessárias para enfrentá-lo. 

Os afastamentos por transtornos de saúde mental representam um prejuízo significativo para as empresas. Além dos custos diretos associados aos benefícios por incapacidade, as organizações enfrentam despesas relacionadas à perda de produtividade; contratação e treinamento de substitutos temporários; tratamento médico e programas de apoio aos colaboradores. 

De acordo com Rosa Frugoli, professora nos cursos de mestrado e doutorado em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, qualquer transtorno mental ou conflito psicológico impacta diretamente a vida das pessoas. Na atualidade, as pessoas adultas ainda passam a maior parte de suas vidas no ambiente do trabalho, mas o restante da vida pessoal ainda é demarcado pelo trabalho, pois constantemente são recebidas informações do trabalho por meio de mensagens, grupos e e-mails. 

“Constantemente nossos pensamentos e percepções são ocupados pelas nossas responsabilidades e pelas tentativas de adiantarmos aquela atividade do amanhã: o quando, com quem e como farei, além da reflexão sobre qual será a opinião ou avaliação alheia tornam-se recorrentes e frequentes. Poucas pessoas conseguem deixar o trabalho na própria empresa, na organização ou instituição; nós saímos do espaço do trabalho, mas aquelas atividades, nossos serviços, nos acompanham”, diz Frugoli. 

Riscos 

Além do impacto direto na saúde dos colaboradores, os transtornos mentais também podem influenciar negativamente o clima organizacional. Um ambiente de trabalho que não aborda de forma adequada as questões relacionadas à saúde mental pode ser marcado por níveis altos de estresse, baixa moral, desmotivação e até mesmo conflitos interpessoais.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostrou que quatro em cada dez brasileiros já tiveram problemas de ansiedade. No último mapeamento global de saúde mental feito pela OMS, o Brasil teve a maior prevalência de ansiedade, com 9,3% da população sofrendo do transtorno. 

Na ‘Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT)’ foram inseridos transtornos mentais como burnout, ansiedade, depressão e tentativa de suicídio. Quando o trabalhador tem reconhecido seu problema pelo INSS pode, inclusive, adquirir a estabilidade de 12 meses após alta médica. 

Segundo o professor do departamento de Psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF), Bruno Chapadeiro, os denominados fatores de risco psicossociais, que se explicam a partir de várias mediações, compreendem intrinsecamente os aspectos constitutivos da organização do trabalho refletidos no clima organizacional. Envolve a dimensão técnica e social do trabalho, o conteúdo das tarefas e o sistema de hierarquia e competitividade. 

“Também incluem o ritmo, a duração da jornada e os turnos alternantes e noturnos. A lista engloba, ainda, as modalidades de comando, as relações de poder, o nível de responsabilidade (sobrecarga ou subcarga de exigências), apoio social, as violências — como assédios moral e sexual — e os suicídios”, diz Chapadeiro. 

ESG 

O aumento dos afastamentos por problemas de saúde mental também pode afetar o desempenho das organizações no que diz respeito aos critérios de ESG. Empresas que não demonstram preocupação com o bem-estar dos colaboradores — e não implementam medidas eficazes para lidar com questões de saúde mental — podem enfrentar críticas de investidores, clientes e outras partes interessadas. 

Uma cultura organizacional que não valoriza a saúde mental pode comprometer a reputação da empresa e minar sua credibilidade no mercado. Keli Rodrigues, neuropsicóloga, destaca que as práticas de ESG podem ajudar nessa questão ao destacar a importância da saúde mental como um aspecto social da sustentabilidade corporativa. 

As empresas que incorporam práticas e políticas que promovem a saúde mental dos colaboradores demonstram um compromisso com o bem-estar de seus funcionários, o que pode melhorar sua reputação e atrair talentos. Além disso, o ESG incentiva a transparência e a prestação de contas, o que pode motivar as empresas a implementar medidas concretas para lidar com questões relacionadas à saúde mental, como programas de apoio psicológico, treinamento de gestores (para reconhecer sinais de estresse e ansiedade), e criação de uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”.