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Qual vale mais a pena: profissional pronto ou jovem com potencial?

Dilema empresarial pode influenciar no futuro da mão de obra do Brasil. Optar por um ou outro tem suas vantagens e decisão ainda causa polêmica

Por Rodrigo Miranda

Para muitas empresas a hora da contratação é sempre um dilema: contratar um profissional já pronto ou investir no potencial de jovens talentos? Vale mais a pena apostar em um jovem com experiência e habilidades técnicas consolidadas ou direcionar esforços para desenvolver talentos promissores?

Empresas estão se deparando com a necessidade de equilibrar a expertise técnica com as habilidades interpessoais, cruciais para o ambiente de trabalho moderno. O mercado contemporâneo tem demandado uma combinação única de habilidades técnicas (hard skills) e habilidades interpessoais (soft skills).

A decisão sobre contratar um profissional já pronto implica priorizar a experiência técnica, enquanto optar por jovens promissores significa investir na formação de competências comportamentais. É possível observar, no entanto, duas situações no mercado: ao mesmo tempo em que grandes empresas buscam profissionais com conhecimentos técnicos, também há uma busca de jovens promissores.

Valéria Calipo, professora do curso de Gestão de Recursos Humanos, na Universidade Metodista de São Paulo, destaca que ter profissionais que se adaptam à cultura da empresa com facilidade será sempre mais confortável para a empresa e colaboradores. Porém, por vezes, aquele jovem que não tem um comportamento muito adaptável poderá ser aquele que tem boas ideias e traz contribuições significativas para a empresa.

“Essa busca do que é ideal deverá ser analisada caso a caso, pois o que é ideal para uma empresa poderá não ser para outra. Claro que as questões a respeito do caráter devem ser inegociáveis, mas, algumas vezes, encontramos excelentes profissionais que conseguem contribuir significativamente para o resultado da empresa e não são tão adaptáveis às situações que a maioria das pessoas considera apropriadas”.

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Estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada — feitas com base nos dados por trimestre móvel da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua — apontaram que mais de 1,1 milhão de novas vagas de trabalho criadas foram ocupadas por jovens de 18 a 24 anos. O estudo também revela que a competição não se restringe apenas aos seus pares, mas inclui profissionais de diferentes gerações e com vasta experiência.

Muitas organizações agora buscam profissionais que chegam prontos para assumir responsabilidades, visando a maximização da eficiência desde o primeiro dia. Essa mudança de paradigma levanta questões sobre o papel das empresas na formação contínua de seus colaboradores e no desenvolvimento de lideranças internas.

Para Denise Casagrande, administradora e executiva, muitas empresas têm apostado no potencial e buscam resultados a médio e longo prazo. Mas é preciso também haver um equilíbrio nas escolhas para não prejudicar a rotina.

“Entendo que o melhor é a gente ter uma mescla, mas eu não abriria mão do potencial jamais. Um profissional pronto sem potencial vai certamente limitar seu desenvolvimento dentro da empresa, então se nós tivermos que escolher entre ter alguém pronto e alguém com potencial para crescer, é melhor pensar no futuro”, revela.

Com a competição acirrada e o aumento da dificuldade para os recém-formados encontrarem emprego, é crucial que as instituições de ensino desempenhem um papel ativo na preparação de seus alunos. O surgimento de programas voltados para o desenvolvimento de habilidades práticas e soft skills tem sido uma das respostas a esse desafio.

“Sem dúvidas esse é um trabalho de muitas mãos e requer o envolvimento dos profissionais e das empresas. O que as empresas têm buscado é uma ênfase muito grande no desenvolvimento e na busca de perfis mais aderentes à cultura e propósito da companhia”, diz.

Quando o cenário se torna propenso a não absorver mão de obra jovem, isto pode acarretar sérias consequências para o futuro do país. Valéria Calipo afirma que o desemprego entre os jovens pode aumentar, comprometendo não apenas a estabilidade econômica, mas também gerando impactos sociais significativos.

“Em termos de desempregados, a não absorção da mão de obra jovem pode levar a um aumento da taxa de desemprego no país. Isso pode ter um impacto negativo na economia, pois pode reduzir o consumo e o crescimento econômico, e além disso, pode levar a um aumento da pobreza e da desigualdade social”, sentencia.